sábado, 20 de junho de 2009

A Doutrina Bíblica da Santa Trindade



Só há um Deus

A doutrina bíblica da Santa Trindade repousa sobre este fundamento: “o SENHOR é Deus; nenhum outro há, senão ele” (Deuteronômio 4.35). “Eu sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim não há Deus” (Isaías 45.5). O Novo Testamento não é menos explícito quando o Senhor Jesus cita, a partir de Deuteronômio: “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único Senhor” (Marcos 12.29). Paulo fala aos coríntios: “sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só” (1 Coríntios 8.4). Ele afirma a mesma coisa a Timóteo: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Timóteo 2.5).


O único Deus é “verdade e vivo”

Estas são exatamente as palavras da Santa Escritura. Jeremias diz: “Mas o SENHOR Deus é a verdade; ele mesmo é o Deus vivo” (Jeremias 10.10). Paulo lembra aos tessalonicenses que eles haviam se convertido dos ídolos “para servir o Deus vivo e verdadeiro” (1 Tessalonicenses 1.9).


Deus é eterno

As expressões “perpétuo” e “eterno”, que significam a mesma coisa quando relacionadas a Deus, são constantemente usadas pelos escritores sagrados quando falam do Todo-Poderoso. Moisés disse: “O Deus eterno é a tua habitação” (Deuteronômio 33.27). “...de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmo 90.2). Isaías fala do “eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra” (Isaías 40.28). Paulo fala também do “Deus eterno” e do “Rei dos séculos, imortal...” (Romanos 16.26 e 1 Timóteo 1.17). Muitas outras passagens poderiam ser acrescentadas, mas estas já atestam a verdade completamente.


Deus não possui corpo, divisões ou paixões

O Senhor Jesus Cristo disse à mulher de Samaria: “Deus é Espírito” e, depois da ressurreição, disse aos discípulos: “um espírito não tem carne nem ossos” (João 4.24; Lucas 24.39). Deus é revelado na Bíblia como um Ser espiritual puro, presente em todo lugar, a todo e qualquer instante. “Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o SENHOR” (Jeremias 23.24). Reconhecidamente, as Escrituras falam das mãos, dos ouvidos e dos olhos de Deus, e de Seu prazer, de Sua ira, de Seu amor, e de Sua aversão, mas esta é a linguagem condescendente a nosso conhecimento imperfeito. A fim de que entendamos alguma coisa de Seu ser e de Sua obra, Ele permite que os homens apliquem suas palavras humanas às coisas divinas. Assim, revela Seu ser divino ao nosso entendimento humano.


O poder de Deus é infinito

“Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra” (1 Crônicas 29.11). O Salvador divino diz: “a Deus tudo é possível”; e o anjo assegurou a Maria que “para Deus nada é impossível” (Mateus 19.26; Lucas 1.37). Esses e outros versículos revelam que Ele tem infinito poder.


A sabedoria de Deus é infinita

“Grande é o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é infinito” (Salmo 147.5). A perfeição de Sua sabedoria é vista na obra da criação: “todas com sabedoria as fizeste” (Salmo 104.24). Seu conhecimento alcança tudo no passado e tudo que está por vir: “Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras (Atos 15.18). “Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Hebreus 4.13). “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Romanos 11.33).


A bondade de Deus é infinita

Ao olhar para o que havia criado, Ele viu que tudo “era muito bom” (Gênesis 1.31). “A terra está cheia da bondade do SENHOR” (Salmo 33.5). “... porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre” (Salmo 136.1). Os cristãos não precisam de provas quanto à bondade do Senhor além do conhecimento de Seu gracioso presente ao dar Seu eterno Filho para redimir seu povo e salvá-lo dos pecados. Esta é a bondade divina, verdadeiramente infinita e além de nossa compreensão.


Deus fez e preserva todas as coisas

“Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há” (Êxodo 20.11). “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis” (Colossenses 1.16). Ele preserva: “... tu fizeste o céu... a terra e tudo quanto nela há... e tu os guardas com vida a todos” (Neemias 9.6). Todas essas declarações derivam da infalível Palavra de Deus, e sobre elas se firma a doutrina da Santa Trindade. Elas revelam a majestade e a glória do DEUS ÚNICO. As Escrituras mostram com igual clareza que o Filho é Deus e que o Espírito Santo é Deus, e que há uma Trindade de Pessoas na Unidade da Divindade.


A verdadeira Divindade do Senhor Jesus Cristo

Entre os enganos relacionados à Pessoa do Filho, há a noção de que Ele é Deus somente num sentido inferior, um ser criado, não o Deus “verdadeiro” e “real”, não co-igual e da mesma substância que o Pai. Alguns negam a divindade do Filho completamente, alguns negam que Ele tenha tido “duas naturezas perfeitas e completas: a divina e a humana”. Alguns declaram que na terra Ele era somente homem, e que após Sua ressurreição Ele era Deus somente. Alguns negam Sua humanidade perfeita e alguns, a Sua divindade perfeita. Entretanto, o Senhor Jesus Cristo é “Deus verdadeiro e eterno”. O Antigo Testamento fala do Messias nestes termos: “Cinge a espada no teu flanco, herói” (Salmo 45.3); “O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo” (Salmo 45.6); “ele é teu Senhor; adora-o” (Salmo 45.11); “e se chamará o seu nome... Deus Forte” (Isaías 9.6); “este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA” (Jeremias 23.6); e Zacarias declara que Ele é “companheiro” (ou igual) do “SENHOR dos Exércitos” (Zacarias 13.7).


Ele exerce o poder e a sabedoria de Deus

Quando o Messias prometido estava na terra Ele mostrou, por Suas obras e pela Sua Palavra, que era verdadeiramente “Deus conosco” (Isaías 7.14; Mateus 1.23). Aquelas obras poderosas, que somente poderiam Ter sido feitas pelo “SENHOR Deus... que só ele faz maravilhas” (Salmo 72.18), Cristo realizou por Seu próprio poder e por Sua própria palavra. Ele curou o leproso, deu visão ao cego, levantou o que estava morto, acalmou a tempestade, tudo por Seu próprio poder. Se é alegado que os Apóstolos fizeram milagres, embora fossem somente homens, deve ser lembrado que seu poder derivava dEle, e eles sabiam disso.
Outra prova da divindade do Salvador é vista pelo Seu conhecimento dos corações dos homens. Salomão orou ao Deus Todo-Poderoso: “... porque só tu conheces o coração de todos os filhos dos homens” (1 Reis 8.39), e ainda lemos que Jesus percebeu os pensamentos dos corações dos homens (Lucas 9.47), que “... a todos conhecia e,,, bem sabia o que havia no homem” (João 2.24, 25). Nestas coisas, Jesus exerceu um poder que pertencia somente a Deus. Mais uma vez, quem pode perdoar pecados, senão Deus? Ele diz: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões” (Isaías 43.25), e o Senhor Jesus disse: “o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” (Mateus 9.6).


Ele é adorado como Deus

O Salvador disse: “está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás” (Mateus 4.10), e ainda sem repreensão, permitiu que essa adoração fosse prestada a Si mesmo, ao declarar: “Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai” (João 5.23). Lemos sobre um leproso, sobre um legislador, sobre os discípulos num barco, sobre uma mulher de Canaã e sobre um homem cego de nascença, todos eles vieram e adoraram Cristo. Após Sua ressurreição, Maria Madalena e outras mulheres “E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram” (Mateus 28.9). Tomé não foi censurado quando dirigiu-se a Ele como “Senhor meu, e Deus meu!” (João 20.28). Ele, que apropriadamente recebeu a adoração devida somente ao Senhor nosso Deus, devia ser verdadeiramente o Senhor nosso Deus.


Ele é declarado Deus

Como os discípulos se referiram ao Senhor ressurreto e elevado aos céus quando Ele enviou o Espírito da Verdade para guiá-los infalivelmente à verdade? João diz: “... o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória” (João 1.1, 14). Em outra passagem, ele escreve: “... seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 João 5.20). Paulo fala aos romanos que Cristo “é sobre todos, Deus bendito eternamente” (Romanos 9.5). Aos Colossenses, ele declara que “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2.9). Para Timóteo, ele afirma que “Deus se manifestou em carne” (1 Timóteo 3.16). Na epístola para Tito, Paulo ainda escreve sobre Jesus como sendo o “grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo” (Tito 2.13). Pedro também fala dEle como “Deus e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1.1).
Na visão de Cristo em glória mostrada em Apocalipse, Cristo anuncia Sua presença ao apóstolo amado: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso” (Apocalipse 1.8, 17; 21.6; 22.13). “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra” (Filipenses 2.10). Todas as criaturas devem levantar uma única voz de adoração ao nosso Deus Salvador, dizendo: “Ao que está assentado sobre o trono e ao Cordeiro sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre” (Apocalipse 5.13).


O Filho é Deus, e da mesma substância que o Pai

O próprio Senhor Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10.30). Ele é o “unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.14). “Ele é antes de todas as coisas” (Colossenses 1.17). Suas “saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Miquéias 5.2). Ele era o Verbo que estava “no princípio com Deus” e que “era Deus” (João 1.1, 2).

Ele tomou sobre Si a natureza humana

Jesus nasceu no mundo e cresceu “em sabedoria, e em estatura” (Lucas 2.52). Ele teve fome e sede, comeu e bebeu, sentiu fraqueza e fadiga, dor e tristeza, moveu-se de compaixão e lamentou a aflição daqueles a quem amava e a visão da ruína de Jerusalém. Ele era “em tudo... semelhante aos irmãos” (Hebreus 2.17) e, como eles “participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas” (Hebreus 2.14). Ele tomou “a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo” (Filipenses 2.7, 8). A esse respeito, Ele é descrito como “homem aprovado por Deus” (Atos 2.22); “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1 Timóteo 2.5).
Em Sua natureza humana, Ele era completamente homem, nascido de uma mulher quando, no milagre da encarnação, Maria “deu à luz a seu filho primogênito” (Lucas 2.7). É igualmente verdade que Ele era enviado de Deus: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gálatas 4.4).

A divindade e a humanidade estavam inseparavelmente unidas em uma única Pessoa

Não podemos entender essa misteriosa união, nem mesmo tentar explicá-la, mas sustentamos sua veracidade porque ela é claramente revelada na infalível Palavra de Deus. Como Deus, Ele podia dizer: “antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8.58).; como homem, Ele era a semente de Abraão. Como Deus, era o Senhor de Davi; como homem, era filho de Davi (Mateus 22.43-45). Como Deus, pertenciam-Lhe todo poder e honra, tanto na terra como no céu; como homem, “ele mesmo está rodeado de fraqueza” (Hebreus 5.2). Como Deus, Ele era Senhor de todas as coisas pelo direito da criação, pois “sem ele nada do que foi feito se fez” (João 1.3); como homem, foi destituído de todos os bens terrenos e não tinha “onde reclinar a cabeça” (Mateus 8.20). Como Deus, tinha em Suas mãos as saídas da vida e da morte, e tinha poder para sacrificar Sua vida e poder para tomá-la de volta (João 10.18); como homem, “Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca” (Atos 8.32).
As naturezas divina e humana nunca se separaram. Mesmo depois de Sua ascensão, Ele Se mostra como o Único Mediador – “Jesus Cristo homem” (1 Timóteo 2.5). Paulo fala do Senhor assunto ao céu como futuro Juiz – “por meio do homem que [Deus] destinou” (Atos 17.31). As Escrituras, portanto, deixam claro que o Senhor Jesus Cristo, como quando na Terra, é e sempre será ambos: Deus e homem. Nele, embora sentado em Seu trono de glória, a natureza humana está, de maneira misteriosa, unida com a divina.

O Espírito Santo é manifestado como uma Pessoa

É indispensável, primeiramente, estabelecer este aspecto verdadeiro, de maneira que, depois, possa ser mostrado que essa Pessoa é divina e da mesma substância que o Pai e o Filho. Aqueles que negam a divindade do Espírito Santo, invariavelmente, negam Sua existência pessoal distinta.
Quando o Senhor estava prestes a deixar Seus discípulos, Ele lhes prometeu: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade” (João 14.16-17). O “Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14.26). “Ele testificará de mim” (João 15.26). “Eu vo-lo enviarei” (João 16.7). “Ele vos guiará em toda a verdade... e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (João 16.13-14).
O próprio Senhor Jesus Cristo era uma Pessoa, e é claro que o “outro Consolador” também seria uma. As coisas que Jesus fala a respeito desse Consolador seria um tanto ininteligíveis se Este não fosse uma Pessoa. Ele deve ser uma Pessoa, pois é enviado, pois ensina, pois traz coisas à nossa lembrança e nos mostra as coisas relativas a Jesus. Estas são descrições das ações de uma Pessoa – ouvindo, recebendo, testificando, falando, reprovando, instruindo e guiando.


Testemunhos das epístolas de Paulo

Paulo nos fala que “... o Espírito ajuda as nossas fraquezas... [e] intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26). Isto só é verdadeiro quando se fala de uma Pessoa que ajuda e intercede. “Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência... Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Coríntios 12.8-11). É inaceitável que um escritor inspirado usasse esse caráter de linguagem, atribuindo todas essas operações ao Espírito, se tal Espírito não fosse uma pessoa. Mais uma vez, o apóstolo admoesta-nos que não entristeçamos o Espírito de Deus. Tristeza não é um sentimento que possa ser atribuído a alguma coisa além de a uma pessoa. Portanto, o Espírito Santo é uma Pessoa, e isso é claramente definido pelas Santas Escrituras.

A consideração daquelas Escrituras que nomeiam o Espírito Santo conjuntamente com o Pai e o Filho conduzem à mesma conclusão. O mandamento é dado para que se batize no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O Pai e o Filho são Pessoas e o mesmo é verdade para o Espírito Santo. O Senhor Jesus não ordenou a Seus discípulos que batizassem no nome de duas Pessoas e de uma influência abstrata. A bênção inspirada – “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós” (2 Coríntios 13.14) – torna igualmente claro que tanto o Pai é uma Pessoa como o são o Filho e o Espírito Santo.


O Espírito Santo é igual ao Pai e ao Filho

O escritor aos hebreus expressivamente chama o Espírito Santo de “Espírito eterno” (Hebreus 9.14). Se alguma outra confirmação fosse necessária, poderia ser obtida das palavras a respeito do batismo no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Como poderia o nome do Espírito Santo ser colocado ao lado dos nomes do Pai e do Filho, a menos que Ele, em verdade, fosse o “verdadeiro e eterno Deus”? Na administração da ordenança do batismo é concebível que o nome de um ser inferior seja colocado em igualidade perfeita com o do Pai Todo-Poderoso? As Escrituras revelam que não há outro Deus além dEle; Ele mesmo diz: “a minha glória, pois, a outrem não darei” (Isaías 42.8). A Pessoa cujo nome se mantém com o do Pai e do Filho é, Ela mesma, Deus, o Espírito Santo. A mesma coisa pode ser dita a respeito da bênção na qual Paulo invoca a graça e a bênção de Deus sobre os cristãos de Corinto: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós” ( 2 Coríntios 13.14). Seria uma blasfêmia introduzir em tal bênção o nome de alguém que não fosse das mesmas substância, majestade e glória que o Pai e o Filho.


A doutrina revelada no Antigo Testamento

A revelação dessa verdade é parte das mais primitivas revelações de Deus à humanidade. A palavra hebraica que traduz “Deus” é “Elohim” – um substantivo plural, sempre relacionado a adjetivos plurais e verbos que claramente denotam a pluralidade de Pessoas na Divindade (p.ex., Gênesis 20.13 – “fazendo-me Deus sair errante”, onde “Deus” e “fazendo-me” são plural; Josué 24.19 – “porquanto é Deus santo”, onde “Deus” e “santo” são plural). Para mostrar que a Divindade é contudo Única, o plural “Elohim” é sempre combinado a substantivos e pronomes singulares: “No princípio criou Deus...” – aqui, “Deus” é plural, enquanto “criou” é singular. O título pelo qual o Todo-Poderoso é designado, “o Senhor teu Deus” é, no hebraico, Jehovah Elohim, onde Jehovah é singular, indicando a unicidade da Divindade; e, Elohim, é plural, indicando a pluralidade das Pessoas nessa unidade. Deve-se lembrar que essas revelações foram feitas a um povo constantemente advertido contra o politeísmo das nações circundantes. É inconcebível que Moisés, escrevendo sob a inspiração do Espírito Santo, usasse palavras indicando uma pluralidade de Pessoas no Único Deus Eterno, sem que ele mesmo tivesse ficado irresistivelmente impressionado por essa misteriosa verdade e desejasse comunicá-la como parte essencial da revelação.


O Pai, o Filho e o Espírito Santo no livro de Isaías

Há alguns testemunhos muito claros em Isaías. “... vindo o inimigo como uma corrente de águas, o Espírito do SENHOR arvorará contra ele a sua bandeira. E virá um Redentor a Sião... diz o SENHOR” (Isaías 59.19-20). Quem é esse “Redentor”? “eu sou o SENHOR, o teu Salvador, e o teu Redentor, o Poderoso de Jacó” (Isaías 60.16). Aqui fala-se de três Pessoas Divinas: o Espírito do SENHOR, o Redentor – o Eterno Filho, que viria para Sião – e o SENHOR, que fala através do profeta. Em outro lugar, lemos: “e agora o Senhor DEUS me enviou a mim, e o seu Espírito” (Isaías 48.16). Um estudo do contexto mostra que o orador é o Messias, o Filho de Deus, e as três pessoas da Santa Trindade são claramente indicadas: o Senhor Deus (o Pai), o Santo Espírito e o Filho.

* Trinitarian Bible Society.

domingo, 24 de maio de 2009

Somos todos devedores



As estatísticas revelam o fato de que uma alta porcentagem da população brasileira tem dívidas contratadas para adquirir algum bem material. A maioria das pessoas paga parcelas da dívida sem falhar. As penalidades impostas convencem aos devedores de que é melhor pagar as prestações em dia do que sofrer as conseqüências da irresponsabilidade.

Mas há dívidas que não pesam porque os devedores não assinaram qualquer contrato ou compromisso com os credores. Será que Filemom reconheceu que ele devia sua própria vida a Paulo (Fm 19)? Será que o sacerdote e o levita acharam que eram devedores quando passaram ao largo do viajante ferido que caíra nas mãos de assaltantes (Lc 10.30,31)? Será que o rico sentiu algum peso por dever algo para o mendigo Lázaro, que aguardava alguma migalha jogada da mesa?


Podemos lembrar múltiplos débitos”, diz Charles Gore. “O solitário a quem poderíamos visitar, o mal compreendido com quem poderíamos ser solidários, o ignorante a quem poderíamos ensinar. Não é desconcertante tentar imaginar nossas dívidas? E, contudo, deixe um homem tomar a iniciativa e tudo ficará bem. Deixe-o calmamente decidir agir em relação àqueles que ele emprega, ou àqueles que o empregam, em direção ao porteiro da estrada de ferro e aos assistentes de lojas e outros que ajudam em sua comodidade, como homens e mulheres com o mesmo direito de receber tratamento cortês...” (Refrigério para a Alma, Shedd Publicações).


É fácil se equivocar ao lembrar a dívida de Paulo para com os gregos, sábios, bárbaros e ignorantes (Rm 1.14), imaginando que receber o presente da salvação nos faz devedores de Cristo, que pagou o preço de valor infinito na cruz para cancelar nossa dívida.


Porém, não é bem assim. A salvação pela graça não é dívida devida a Deus! Se fosse assim, não seria fruto da graça. Graça não cria dívidas nas pessoas que se beneficiam da oferta de escapar do castigo do inferno e gozar do imerecido privilégio de gozar da herança celestial.


Mesmo assim, Paulo reconhecia uma dívida pesada. Todos nós temos esta dívida também. Somos devedores dos que perambulam no lado de fora das nossas igrejas, dos que não têm filiação na família de Deus por ignorarem o direito que lhes cabe de participar do banquete do Rei na história de Jesus. O Rei disse aos seus servos: “O banquete está pronto... vão às esquinas e convidem para o banquete todos os que vocês encontrarem” (Mt 22.8,9).


Os que sem qualquer mérito ou direito foram agraciados pelo convite para prestigiar o banquete do paraíso têm uma dívida que pode ser saldada pelo convite insistente aos que ignoram a grandiosa oportunidade de participar na festa gloriosa da vida eterna.


CONCLUSÃO


A exortação “Não devam nada a ninguém, a não ser o amor uns pelos outros” não desmente as outras declarações de Paulo sobre dívidas. O amor que devemos aos cristãos e não cristãos se torna prático e visível tanto no testemunho como em ações abençoadoras.


O propósito que Deus revelou em sua Palavra para o seu povo na frase que nos constrange a fazer boas obras (Ef 2.10) cabe aqui. Mas ações são boas somente quando motivadas pelo amor. O privilégio de participar da nova criação implica no pagamento desta dívida através do servir aos irmãos em amor e aos amigos como se devêssemos a eles trato carinhoso. Assim saldamos nossa dívida com ambos. Obedecer ao segundo grande mandamento cumpre este dever para com a família de Deus e a sociedade.


Paulo declara que o peso da dívida que sentia para com os de fora poderia ser saldada com a pregação das Boas Novas de Cristo. Para pagar sua dívida, não importava sofrer, receber açoites, passar por todo tipo de perigo, prisões e finalmente ser decapitado em Roma.


Acredito que ele foi um excelente pagador. E nós? Será que Deus não ama os ribeirinhos, os marginalizados, os presidiários, os famintos, tanto quanto ama a cada um de nós? O que estamos fazendo para sermos imitadores do excelente pagador que Paulo era? Temos levado as Boas Novas de Cristo a todos de forma indiscriminada?


*Russel Shedd / Atualmente, Shedd é Presidente Emeríto da Vida Nova e consultor da Shedd Publicações e viaja pelo Brasil e exterior ministrando em conferências, igrejas, seminários e faculdades de Teologia.

domingo, 26 de abril de 2009

Viajando com Wesley


Fiz uma viagem de dez dias pela Grã-Bretanha para promover um livro recente. Para minhas leituras matinais, levei comigo o “Diário”, de John Wesley, do incansável evangelista. Em algumas manhãs, eu li a jornada de Wesley a uma cidade como Bristol ou Dudley, que eu iria visitar naquela mesma tarde. Nossa, que diferença!

Eu viajava em um carro confortável e falava para uma audiência amigável em eventos pagos. John Wesley viajava a cavalo, debaixo de chuva e neve, falava quatro ou cinco vezes por dia para grandes audiências em locais abertos e enfrentava oponentes que freqüentemente o recebiam com palavras profanas e pedras.

Terminei de ler o diário de Wesley, impressionado com sua resistência física, seu estilo de vida austero e sua dedicação absoluta aos grupos de crentes espalhados por toda a Grã-Bretanha. Mas não pude deixar de perceber a falta de apreciação que Wesley tinha pelas belezas e riquezas culturais que abundam nessa nação.

Ao notar um lindo jardim de flores, ele rapidamente falou: “O que pode encantar sempre, senão o conhecimento e o amor de Deus?” Visitando uma das grandes casas históricas da Inglaterra, notou: “Não demorará muito para que esta casa, sim, e toda a terra sejam queimados!” E depois de se maravilhar com os talentos de um organista cego, acrescentou: “Mas de que adianta ser melhor em tudo isso, se ainda estiver ‘sem o Deus do mundo?’”


Nem mesmo o British Museum deixou nele uma boa impressão. Diante de uma coleção extraordinária, Wesley escreveu: “Mas que explicação um homem dará ao juiz dos vivos e dos mortos por uma vida gasta colecionando todas essas coisas?”

Resumindo, Wesley via a graça comum da beleza e da cultura com uma atitude que se aproximava do desdém. Mais de uma vez escrevi nas margens do livro: “Relaxa, John”! (Só que pelos padrões dos ascetas que viviam em cima de postes e comiam apenas pão e água, John Wesley era um esteta [um apreciador das coisas belas da vida].)


Pouco antes, eu tinha lido a penetrante parábola de Anthony de Mello sobre um grupo de pessoas viajando por um glorioso interior em um ônibus com cortinas cobrindo todas as janelas. Focadas no destino, perderam todas as maravilhas do lado de fora e ficaram brigando pelos melhores bancos.

Um dos maiores desafios como cristãos é organizar nossos desejos, de modo a manter equilíbrio apropriado entre nossos interesses por este mundo e pelo próximo. Como gostar desta vida com as dádivas da arte, da beleza, da música e do amor e, ao mesmo tempo, servir os pobres e guardar tesouros para o reino que virá?

A Igreja não está sozinha nessa luta para encontrar um equilíbrio. Em outros lugares, o hinduísmo, o islamismo e o budismo, como todas as religiões, têm seitas que matam de fome e torturam os corpos para alcançar mérito. Entretanto, aqueles que não têm nenhum interesse pela vida futura não são bons em organizar seus desejos (como o demonstram os milhões que lutam contra os vícios).

De maneira alguma quero depreciar John Wesley, que demonstrou o compromisso radical necessário para mudar o mundo. Ele viajou 650 quilômetros em transporte precário e pregou uns 40 mil sermões, acendendo o fogo do reavivamento na Europa e nos Estados Unidos, fogo que queimou por séculos. Ele literalmente pegou a ordem de Jesus de “não guardar para si os tesouros da terra”.

Wesley, certa vez, falou sobre o perigo da riqueza: “Temo que onde a riqueza aumentar, a essência da religião cairá na mesma proporção. Assim, de forma natural, não vejo como um reavivamento da religião possa continuar por muito tempo. Porque a religião deve produzir, ao mesmo tempo, esforço e frugalidade, que não produzem riqueza. Ao mesmo tempo em que a riqueza aumenta, aumentam também o orgulho, a raiva e o amor pelas coisas do mundo”.

Bebericando um chá, certa tarde, com um próspero líder cristão em uma amável igreja inglesa, aprendi que, se a tendência atual continuar, não haverá mais metodistas na Inglaterra em 30 anos. Meus pensamentos se voltaram para meu próprio país, o mais rico do mundo, e, ainda, pelo menos até agora, um dos mais religiosos. O que os historiadores aprenderão sobre a Igreja americana atual daqui a 200 anos?


Uma citação de G. K. Chesterton veio à minha mente: “É sempre simples cair: há uma infinidade de ângulos para se cair, mas apenas um para se levantar”.


Philip Yancey / é um escritor e jornalista cristão americano. Seus livros venderam mais de 14 milhões de cópias, desde a sua estréia em 1977 e são lidos em 25 idiomas pelo mundo todo, fazendo dele um dos mais vendidos autores cristãos. Premiado duas vezes com o "Melhor livro do ano" pela ECPA, além de outros prêmios, Yancey colabora com a revista Christianity Today, como editor associado.

domingo, 12 de abril de 2009

Igreja local


Nos últimos três anos, tenho repetido que creio que Deus está preparando a igreja para outra reforma. A primeira reforma pôs o foco no que a igreja cria; agora o foco estará no que ela faz.

Temos separado por muito tempo a Palavra de Deus da obra de Deus. Como igreja, somos chamados para ser o corpo de Cristo – o corpo todo. Não somos chamados para ser apenas a boca de Cristo, mas os pés e as mãos também.

Toda vez que acontece uma reforma, seis renovações a antecedem. O despertamento e a reforma da igreja global começarão com igrejas como as nossas. Os seis passos listados abaixo precederão este movimento em nossas igrejas.
.
1. Renovação pessoal: Ela começa com o coração. Se Deus for renovar sua igreja, ele começará com a sua e depois continuará com o resto da igreja. Desafie sua igreja à renovação da sua vida e a estar cheia do Espírito. Eis o divisor de águas: você precisa amar a Jesus novamente. Sua vida não tem nada a ver com religião e rituais, mas com um relacionamento com Jesus. Você sabe que Jesus não apenas ama você, ele gosta de você.

2. Renovação relacional: Depois que você fica legal com Deus, você precisa se acertar com os outros. Foi Jesus quem nos disse isso. Ele nos convidou a amar a Deus de todo o nosso coração e também amar os outros como a nós mesmos. Quando você tem uma renovação relacional na igreja, a fofoca desaparece e a alegria se levanta. Como saber que a igreja está experimentando uma renovação relacional? As pessoas não saem correndo do culto. Querem passar tempo juntas. Se as pessoas não querem sair voando do culto, você tem um show, não uma igreja. A igreja é mais que diversão: é uma comunidade.

3. Renovação missiológica: Isso acontece quando uma igreja descobre o que Deus quer dela. Temos um compromisso com o reino. Não estamos aqui apenas para abençoar uns aos outros. Deus quer abençoar o mundo por nosso intermédio. Deus deu à igreja cinco propósitos: adoração, comunhão, discipulado, ministério e evangelização. A renovação missiológica acontece quando centramos a igreja nesses propósitos. Quando sua igreja conseguir uma renovação pessoal, relacional e missiológica, ela vai crescer.

4. Renovação cultural: Nesse estágio, Deus renova a cultura da igreja. Conheço pastores que têm tentado mudar a cultura da igreja sem passar pelas três renovações anteriores. Há uma palavra para isto: martírio. Você não pode mudar a cultura da igreja. Só Deus. No entanto, uma vez terem acontecido as três renovações anteriores, Deus agirá na questão cultural de sua igreja.

5. Renovação estrutural: Depois que sua igreja passou pelas quatro primeiras renovações, começa a renovação da estrutura. É líquido e certo. Aconteceu em nossa igreja. A estrutura que funciona para uma igreja de 100 membros não funciona para uma de 250 e assim por diante. Não há estrutura perfeita na Bíblia. Por quê? Cada situação é diferente. Precisamos estruturar nossas igrejas em função das circunstâncias. Mudamos as estruturas todo ano em nossa igreja. Você não pode pôr vinho novo em odres velhos. Tão logo sua igreja começa a ficar saudável, sua estrutura tem que mudar.

6. Há uma sexta renovação, mas ela não acontece na igreja local. A renovação institucional acontece quando as instituições cristãs mudam. Instituições como seminários e denominações são as últimas a mudar; elas nunca começam o processo de mudança. A mudança sempre acontece primeiro na igreja local. As instituições existem para preservar a mudança para a próxima geração. Olhe para uma árvore. Seu crescimento nunca acontece no tronco. É sempre nos galhos. As instituições são como troncos. Elas garantem a estabilidade, não a inovação.

Há um grande despertamento espiritual no horizonte. Sua igreja será parte dele? Conscientize-se desses seis estágios da renovação. Como pastor, Deus o chamou como um catalisador da mudança em sua igreja. Você não pode fazer isto sem que sua igreja esteja nesta jornada.
.
*Rick Warren / Pastor e fundador da Saddle Back Church na Califórnia e autor do best-seller Uma Vida com Propósitos, que pré-vendeu 500 mil cópias antes de ser lançado.

sábado, 28 de março de 2009

Bíblia antiga, teologia liberal?


Nas últimas décadas têm surgido diversas traduções contemporâneas da Bíblia em diversas línguas do mundo. A principal razão dessa empreitada mundial é a necessidade de comunicar as Escrituras de modo claro e inequívoco. Uma das versões estrangeiras que tem chamado a atenção pela qualidade de seu trabalho é The Message (A Mensagem), elaborada por Eugene Peterson. Em português, novas versões têm tido impacto na vida eclesiástica nacional. Almeida Atualizada 2ª Edição, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Nova Versão Internacional e Versão Almeida Século 21 representam alguns dos principais esforços de tradução recentes das Escrituras. O impressionante é que até a Igreja Católica Romana, conhecida por sua resistência histórica de entregar ao povo comum a Bíblia no vernáculo, hoje tem publicado versões contemporâneas e técnicas: Nova Bíblia de Jerusalém, Bíblia do Peregrino, Bíblia Vozes, Bíblia Pastoral, etc.
.
Todavia, a produção de muitas versões novas e revisadas tem, às vezes, sido vista de maneira pouco simpática. Alguns por falta de conhecimento ou por má interpretação têm sugerido que esses esforços de tradução contemporâneos são negativos e rompem com a boa teologia histórica da Igreja Cristã. Essa resistência aparece em alguns círculos evangélicos que entendem que as versões bíblicas bem antigas são a única alternativa para as igrejas cristãs evangélicas. De certa forma, essa tendência é um reflexo menor do que acontece no ambiente norte-americano com a Versão King James. Na verdade, trata-se de uma versão posterior à Reforma. Todos sabem que nem Lutero, nem Calvino usaram a King James Version, que só surgiu em 1611. A versão inglesa foi patrocinada pelo rei Jaime, cuja conduta pessoal foi muito questionada, e passou por muitas revisões e correções, mas mesmo assim tornou-se para muitos evangélicos americanos mais valiosa do que os próprios textos originais.
.
Geralmente, quando se questiona a validade das novas versões, o critério apresentado pelos que defendem versões mais antigas é teológico. Muitos dizem que as novas versões excluíram textos inspirados, negando doutrinas fundamentais da fé. A idéia equivocada é que as novas versões têm o interesse de diluir a fé cristã ortodoxa histórica e fundamentada na autoridade da Palavra de Deus. A grande verdade é que as diferenças de tradução das versões bíblicas existem por causa da época em que foram elaboradas, do nível de linguagem que utilizam, dos manuscritos disponíveis para a consulta, dos instrumentos lingüísticos utilizados e da filosofia de tradução. As diferenças de manuscritos são motivo de maior debate para muitos defensores das versões mais antigas. Na verdade, essa diferença existe pelo fato de muitos manuscritos do Novo Testamento terem sido descobertos nos últimos séculos. Isso levou diversos estudiosos a fazerem uma avaliação destes manuscritos, o que trouxe algumas mudanças em alguns textos bíblicos. No fundo, tais mudanças não mudam em nada a fé cristã. A maior diferença entre o texto das versões antigas e das versões mais recentes é Cristo Jesus em vez de Jesus Cristo. A semelhança dos textos ultrapassa 95%. Todavia, para os leigos, a questão torna-se polêmica, pois o argumento contra as versões mais recentes é “teológico”. Afirma-se que elas mudaram textos fundamentais com a intenção de desacreditar doutrinas essenciais.
.
Neste artigo vamos mostrar que se o mesmo argumento for usado contra as versões mais antigas, elas também poderão ser classificadas como “pervertedoras da fé”.
.
O primeiro texto que merece ser citado é Atos 4:25. As versões mais recentes acompanham a NVI: “Tu falaste pelo Espírito Santo por boca do teu servo, nosso pai Davi.” Já a versão corrigida antiga “omite” o Espírito Santo, e diz: “Que disseste pela boca de Davi”. Por que isso acontece? Será que o tradutor não cria na inspiração da Bíblia? Ou talvez negasse a inspiração pela ação do Espírito Santo? Por que “excluir” o Espírito Santo num texto messiânico tão importante? Como diz a linguagem popular: “Aí tem!” Na verdade, nem a versão bíblica antiga nem os tradutores negam as verdades bíblicas. O fato é que nesse versículo o texto dos manuscritos encontrados mais recentes traz a referência direta ao Espírito Santo. Em outros textos, as versões mais antigas vão confirmar que crêem na inspiração das Escrituras e no Espírito Santo.
.
Um outro exemplo interessante está em Judas 25. Compare as versões: "Ao único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém!" Aqui está o texto da NVI, acompanhado por todas as versões, exceto pela versão corrigida, que traz:“25 Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém” (Corrigida Fiel). Como se pode ver, na versão corrigida “omite-se” Jesus Cristo, nosso Senhor, e antes de todos os tempos. O que se poderia concluir disso? Será que eles têm outro Senhor que não é Jesus? Este Senhor não existe “antes de todos os tempos”? Seria uma versão herética e demoníaca? Podemos julgá-la plenamente por esse versículo? Conforme já demonstramos, é claro que não.
.
Além dos problemas de manuscritos poderíamos citar inúmeros versículos que “provam” a ilegitimidade doutrinária das versões mais antigas. Poderíamos dizer que elas talvez tivessem uma agenda homossexual, pois em Levítico 13:29 afirmam que “mulher tem barba”. Alguém poderia imaginar que elas induzem à prática do pecado, pois em Tiago 1:2, o texto diz: “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações”. Poderíamos dizer que seus tradutores e revisores são deístas, pois em Romanos 8:28 traduzem “…todas as coisas contribuem juntamente para o bem dos que amam a Deus”, em vez de seguir manuscritos que afirmam que “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam”.
.
Como podemos observar, todas as versões bíblicas têm seus méritos e imperfeições. A questão deve ser tratada do ponto de vista técnico e objetivo. Nenhuma versão pode ser classificada teologicamente a partir de um exame superficial e frágil. É muito importante entender que devemos avaliar todas as versões a partir de vários critérios e escolher a que se mostrar mais fiel e adequada para comunicar a mensagem de Deus. Todavia, devemos lidar com a questão com prudência, respeito e bom senso.
.
Afinal de contas, como diz a Bíblia: “36 Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa [frívola/inútil] que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. 37 Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado” (Mateus 12:36-37).
.
*Luiz Sayão / Teólogo, hebraísta, escritos e tradutor da Bíblia. É também professor da Faculdade Batista de São Paulo, do Seminário Servo de Cristo e professor visitante do Gordon-Conwell Seminary.

domingo, 8 de março de 2009

Igrejas infectadas


Aos 25 anos de idade, depois de várias febres, muita rouquidão e um péssimo hálito, dei o braço a torcer e aceitei que o médico operasse as minhas amídalas. Resisti o quanto pude porque sabia que as amídalas existem para proteger as vias respiratórias. Contudo, o médico conseguiu me convencer de que as minhas estavam imprestáveis; tão infectadas que já não protegiam, mas contaminavam o resto do organismo. Só restava uma opção: arrancá-las fora. A partir daquele dia, aprendi que um órgão – qualquer um – pode perder a sua função original e passar a atacar o corpo.
Nas relações humanas e sociais acontece o mesmo. Quando se perdem as finalidades originais, morrem casamentos, empresas, igrejas. Serve o exemplo da família: pai e mãe devem oferecer um ambiente em que os filhos aprendam a ter confiança, segurança, dignidade. Mas quando acontecem muitas brigas com ódio, quando falta paz, aquela família perde a função de fomentar auto-estima e segurança. Assim, deixa de ajudar e passa a desajustar as crianças.

As religiões também podem virar amídalas infectadas. Bastar ver na história. Inúmeras igrejas criaram ambientes doentios e desumanizadores, quando deviam ser espaços de humanização. Devido ao meu site (www.ricardogondim.com.br), recebo milhares de mensagens sobre assuntos variados; a grande maioria, entretanto, pede ajuda. Muitos não suportam os sermões vazios com promessas mirabolantes e ameaças de maldição. Entristeço, mas fica óbvio para mim que as lógicas e práticas da igreja evangélica não conseguem responder às complexidades do século 21. Os espaços evangélicos estão febris.

É preciso detectar, rapidamente, onde a infecção se tornou aguda para combatê-la com doses maciças de antibióticos espirituais e éticos; com um bom diagnóstico, não será preciso operar o foco da contaminação e ainda preservar o organismo.
Estão infectadas as igrejas que priorizam programas, e não relacionamentos. Jesus não tratou a “Igreja” como uma instituição, mas como uma comunidade. Igreja são mulheres e homens com um estilo de vida nobre, verdadeiro, que inspiram os outros a glorificar a Deus. Portanto, para o seu eterno propósito dar certo, Jesus não precisa de eventos sofisticados, basta que seus seguidores amem-se uns aos outros.

Estão infectadas as igrejas que priorizam poder, e não serviço. Nas Escrituras, poder só tem sentido quando mobiliza para a solidariedade, compaixão, humildade. A busca do poder pelo poder é luciferiana em sua essência. Jesus criou o mundo, mas se esvaziou, encarnou e morreu numa cruz. Os cristãos não almejam tronos, mas bacia e toalha para lavar os pés alheios. Sem esperar aplausos, sentem-se privilegiados em servir.

Estão infectadas as igrejas que priorizam espetáculo e não discrição. Jesus ensinou que não se devem cobiçar os primeiros lugares; considerou que a autêntica piedade acontece num quarto de portas fechadas; falou que a mão esquerda não deve conhecer o que a direita oferece. Quando Jesus ressuscitou uma menina, respeitou a privacidade da família e não deixou que estranhos entrassem para testemunhar o milagre. Sobram exemplos de seu recato. Certamente, Jesus não se agrada de saber que alguns tentam transformar a fé num show.

Estão infectadas as igrejas que priorizam milagre, e não coragem existencial. Paulo considerou tudo como esterco pela excelência do conhecimento de Cristo – esse, somente esse, deve ser o alvo da espiritualidade cristã. Não se cultua a Deus para descobrir um jeito certo de “alcançar milagre” ou para ter uma fé mais “eficiente”. No culto, celebra-se o amor gratuito e unilateral de Deus. O Evangelho é boa notícia porque todos são aceitos sem exigências. Deus quer bem sem fazer distinção; não se ganha o favor de Deus com obras. Graça é o chão onde todos podem alicerçar a vida com liberdade e sem culpa. O cristão não precisa que Deus conserte as dificuldades da vida, basta a sua companhia.

O Apocalipse foi taxativo com uma igreja infectada: “Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se... Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do lugar dele”. Nunca os evangélicos precisaram ouvir tanto esta exortação como agora.
*Ricardo Gondim

domingo, 1 de março de 2009

Tome sua cruz

A conhecida frase “Tome sua cruz” faz parte de um conjunto de normas que Jesus ensinou aos seus seguidores. Lucas relata que Jesus dizia a todos: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (9.23, NVI).

Para ser um amigo, seguidor de Jesus, há pelo menos quatro exigências. Primeira, querer acompanhá-lo. Deus não nos força a andar nos passos do seu Filho. Basta desejar ser um amigo chegado de Jesus. Segundo, negar a si mesmo. O “eu” que se entronizou no centro de comando da minha vida, desde que tomei consciência de que sou uma pessoa distinta das outras, tem de ser decisivamente destituído desse domínio. Devo negar o “eu” por meio de uma decisão definida e radical. Paulo podia dizer aos Gálatas, após essa negação definitiva de si mesmo: “Não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim”. Não declara a impecabilidade do apóstolo, mas a entrega do comando sobre sua vida ao Senhor Jesus.

O terceiro passo requer a tomada diária da minha cruz. Incluem aqui aceitar de boa vontade todas as aflições e responsabilidades que em minha carne repudiaria. A cruz refere-se ao conjunto de circunstâncias que fazem parte da minha vida. Em si, não me agradam nem as escolheria, mas Deus soberanamente as impôs sobre mim. Posso aceitar esse peso ou procurar escapar dele.

E.B. Pusey escreveu muitas décadas atrás: “Falamos das cruzes da vida diária e esquecemos que nossa linguagem testemunha contra nós. É preciso muita mansidão. Devemos suportá-las nos passos abençoados do nosso santo Senhor, e não devemos apenas nos sujeitar em cada cruz e inquietação, mas pegá-las com alegria – não apenas com alegria, mas com júbilo, sim, se elas até merecem o nome de tribulação; alegre-se em tribulação também, pois vemos nelas as mãos de nosso Pai, a cruz de nosso Salvador” (Refrigério para a Alma, Shedd Publicações, 2005, p. 218).

Somos o aroma de Cristo que se espalha por toda a parte, segundo Paulo, uma vez que somos conduzidos nEle em triunfo sempre (2 Co 2.14). Essa fragrância somente pode ser o cheiro do sacrifício de Cristo que emanou da sua cruz. Cristo se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus (Ef 5.2). Quem vive muito próximo dEle também ganha o cheiro daquEle que se entregou voluntariamente por nós à vergonha e à agonia da cruz do Calvário.

A quarta exigência é seguir a Jesus, andar nos seus passos. Uma vez que a cruz, firme e constantemente, se torna parte de minha pessoa (Paulo declarou sua crucificação com Cristo no tempo perfeito, corretamente traduzida – “estou crucificado com Cristo”), não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim. O “estilo” de Jesus torna-se parte integral da pessoa do seu seguidor, Paulo. Este, por sua parte, não achou demais convidar seu filho na fé a imitá-lo, como ele imitava a Cristo.

Parece-me que a maioria das conversões dos nossos dias é do tipo light! Omitem os passos que Jesus colocou em sua lista. Em vez de negarem-se a si mesmos, hoje é mais comum afirmarem-se a si mesmos. Em lugar de tomarem a cruz, freqüentemente encontramos “crentes” que se afastam da cruz e tentam escapar das responsabilidades desagradáveis. Em vez de pisarem firmemente nos passos de Jesus, tomam um caminho tortuoso. Desviam-se do santo caminho que o Senhor trilhou.

O jugo de Jesus tem pouco peso para os que querem abandonar o esforço da vontade humana para ser uma “encarnação” de Cristo. Para os cansados e sobrecarregados que desejam seguir ao Mestre com paixão, que em definitivo se negam a si mesmos, tomando suas cruzes diariamente com gratidão e alegria, descobrirão que esse fardo é realmente leve. Suas almas descansam na comunhão com seu Senhor. Suas vidas refletem a luz celestial dos que vivem mais próximos do seu Senhor, como Moisés na presença de Deus no cume do Monte Sinai. O bom perfume de Cristo os acompanha aonde quer que andem.

*Russel Shedd / é um conceituado teólogo evangélico e missionário da Missão Batista Conservadora no Sul do Brasil. Shedd é Presidente Emeríto da Vida Nova e consultor da Shedd Publicações e viaja pelo Brasil e exterior ministrando em conferências, igrejas, seminários e faculdades de Teologia.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Liderança capacitadora

Não raramente, membros ativos e pastores querem saber qual seria o segredo do crescimento da igreja. Haveria uma vitamina, algum plano de ação, que estimule rápido crescimento?

Respostas variam: use os métodos da igreja com propósitos, implante a rede ministerial, ore mais, evangelize mais, conheça melhor seu bairro, descubra as necessidades do povo para procurar supri-las. Há inúmeras propostas para se alcançar mais pessoas e aumentar o rol de membros. Todas as sugestões são valiosas.

Uma pesquisa feita sob a orientação de Christian Schwarz, há mais de uma década, em mil igrejas de várias denominações de 32 países, revelou que há pelo menos oito princípios ou marcas de qualidade que regulam o crescimento da igreja.

1. Liderança capacitadora.

2. Ministérios orientados pelos dons.

3. Espiritualidade contagiante.

4. Estruturas funcionais.

5. Culto inspirador.

6. Grupos familiares.

7. Evangelização orientada para as necessidades.

8. Relacionamentos marcados por amor fraternal. (Veja o livro "O Desenvolvimento Natural da Igreja", Editora Evangélica Esperança, 2003).

Liderança capacitadora, sendo o primeiro item da lista, tem um significado especial. O Senhor Jesus prometeu a Pedro edificar sua igreja “sobre esta pedra e as portas do Hades não poderão vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus...”. No dia de Pentecostes, Pedro pregou poderosamente, ungido pelo Espírito Santo. Milhares de pessoas se converteram, foram batizadas e incorporadas à igreja nascente.

Como se explica a habilidade de Pedro, um simples pescador, em pregar poderosamente sem escolaridade ou curso especializado? Mesmo considerando que ele foi cheio do Espírito, não devemos descartar a liderança natural que possuía. Pedro mostrou, durante os anos passados na companhia de Jesus, que não era tímido ou retraído e tinha boa memória.

Um líder é uma pessoa que consegue alcançar propósitos por meio de outras pessoas. Tem a habilidade de controlar, manejar e motivar outros indivíduos. Ainda que levemos em conta a herança genética de Pedro, o dado marcante foi que ele passou muitas horas com Jesus. Foi este fator que chamou a atenção das autoridades judaicas. Lucas relata que “percebendo que [Pedro e João] eram homens comuns e sem instrução, ficaram admirados e reconheceram que eles haviam estado com Jesus” (At 4.13).

O treinamento que Jesus transmitiu aos seus discípulos foi capacitador e incluía conhecimento cognitivo.

O Sermão do Monte foi apenas um exemplo da maneira como ensinou, usando as interpretações típicas dos fariseus e escribas, lançando luz nova sobre Deus e sua revelação. A mentoria de Jesus foi visual. Os milagres mostraram claramente que Ele não era um mágico. Cada vez que trazia de volta um defunto, repreendia os ventos de uma tempestade ou recriava pão para uma multidão de famintos, mostrava sua filiação.

Quando Pedro passou a ministrar, não ficou intimidado pelas autoridades que o ameaçavam, mas curava doentes, repreendeu os pecados de Ananias e Safira, trouxe Dorcas de volta da morte, dormiu tranqüilamente na prisão na véspera de sua decretada decapitação. Ele escreveu para cristãos perseguidos da Ásia Menor: “Se vocês suportam o sofrimento por terem feito o bem, isso é louvável diante de Deus. Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos” (1 Pe 2.20,21).

Em terceiro lugar, Pedro aprendeu com a prática. Juntamente com os outros discípulos, Jesus os enviou de dois em dois para pregar, expulsar demônios e anunciar a vinda do Reino. Aprenderam a viver pela fé, sem salários fixos ou promessas de sustento. Entenderam que a fé engloba plena confiança no Deus vivo que cumpre suas promessas.

Uma igreja que tem mentores e discipuladores como Jesus terá cristãos aprendizes. Não se limitará a doutrinar cristãos que manterão a doutrina da igreja. Equipará pessoas que iniciam e lideram ministérios com sabedoria e gratidão. Aparecerão pessoas com dons concedidos pelo Espírito. Essa igreja deverá crescer, a não ser que haja divisão com politicagem e rivalidade. E concordo com C. Schwarz: o desenvolvimento de uma igreja deve ser tão natural como o crescimento de uma criancinha.

*Russel Shedd.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Pornografia Virtual


O último lugar em que você esperaria ver um pornô seria na sala de estar de um pastor.
Mas entre o retrato quebrado de Natal da minha família e uma impressora matricial ficava a tela de um computador. Mal eu podia saber que o lugar onde eu digitei relatórios de livros ou mandei mensagens instantâneas aos amigos também se tornaria a porta para uma quantidade interminável do fruto proibido - e uma quantidade sem fim de culpa.

Crescendo como a filha de um pregador Batista, eu era o retrato de 16 anos de idade da ingenuidade. Minha família havia recém se mudado de uma pequena e isolada cidade no oeste do Texas para Dallas, e em questão de dias em minha nova residência, fui bombardeada pela prevalente cultura sexual de uma grande cidade.

Clubes de strip e cartazes acompanham as rodovias. Havia um sex-shop gigante a poucos quilômetros de nossa casa. Hormônios adolescentes inflamados e à tentação de me deixar levar pela minha curiosidade revelou - se uma combinação perigosa.

Meus pais e meu irmão adormeceram rapidamente enquanto eu conectei à Internet uma noite. Eu busquei a palavra “sexo” e em segundos tive acesso a um mar de loiras prateadas bem dotadas fazendo coisas com rapazes (e mulheres) que eu nunca havia visto antes.
Por morar em casa e o único computador estar na sala, não havia muitas oportunidades para fazer minha “pesquisa de educação sexual”, mas sempre que eu estava sozinha, eu rapidamente satisfazia meu interesse.

Eu me formei cedo no ensino médio e logo me mudei para fora de casa quando tinha apenas 17 anos de idade. Eu tinha o meu próprio espaço com o meu próprio computador, e todo o tempo livre no mundo. Eu ia trabalhar (em uma livraria cristã do bairro), voltava para casa, e olhava pornografia quase todas as noites.

Eu frequentava chats eróticos, assistia a filmes e navegava através de centenas e centenas de fotos. Logo meu problema com a pornografia começou a afetar meu desempenho no trabalho e meus relacionamentos.

É claro que nunca mencionei minha luta para ninguém. Pornografia era algo típico, até esperado, de rapazes, mas uma menina? Uma menina que gosta de pornografia? Eu questionava frequentemente minha orientação sexual.

Por que eu gostaria de olhar mulheres nuas? Eu era homossexual? Bissexual? Pervertida? Eu odiava muito o que estava fazendo. Eu sabia que era errado, mas não conseguia parar.

O ciclo continuou durante anos. Me sentindo culpada e jurando nunca fazê-lo novamente, e sucumbindo alguns dias mais tarde. Eu orava a Deus para levar embora os meus desejos. Foi quando eu percebi que era mais do que apenas olhar para as fotos.

Não podia deixar de pensar nisso, e eu tinha mais do que suficiente em imagens gravadas na minha memória para jogá-las novamente no pensamento, mesmo que eu conseguisse ficar fora do computador por um tempo.

Então, por que as mulheres lutam com isso? Embora estereotipicamente não somos tão visualmente estimuladas quanto os nossos colegas masculinos, não somos cegas. Há algo sobre o corpo de uma mulher que é bonito e misterioso, até mesmo proibido, e que brinca com a nossa psique e nos tenta.

Pelo menos para mim, ver estas mulheres perfeitas alimentava uma enorme necessidade emocional. Eu era capaz de me colocar no papel do que eu estava vendo, e, ao fazer isso, me fazia sentir bonita e aceita.

Eu me transformava num corpo perfeito, sexy, e eu era desejada e querida. Eu era capaz de escapar da minha aparência física imperfeita e ser transformada, em minha mente, nesta mulher perfeita.

Minhas atividades online também estragaram minha vida diúrna. Eu fui noiva por cerca de um ano e enganava meu noivo. Depois disso, eu “namorei” vários caras novos por mês, me envolvendo fisicamente com eles de alguma forma.

De acordo com tudo que eu tinha visto, ser aceita e amada significava um relacionamento sexual, e que menina não precisa ser aceita e amada? Fiz meu corpo e meu coração em pedaços durante esses anos.

Quando eu estava com 21, me envolvi em um grave acidente de carro que me levou a reavaliar a forma como eu estava vivendo minha vida. Naquela altura, eu estava fingindo que não havia Deus, exceto quando eu precisava do Seu perdão, e só então eu voltava correndo para Deus. Após o acidente, finalmente algo estalou, e eu percebi que amor não é igual a sexo.
Foi nesse momento que eu decidi dar meia volta - mudar o meu pensamento - e então minhas ações eventualmente (e com esperança) mudar também. Tive de dizer adeus aos meus hábitos online, e aos offline também.

Faz 10 anos desde o meu primeiro encontro com a pornografia online, e eu gostaria de admitir que eu fiz um caminho perfeito até a pureza. Gostaria de poder dizer que eu sempre me mantenho em pensamentos corretos ou desligo o computador quando a tentação começa a ser demais, mas a verdade não é esta.

"Eu ainda sou uma menina que luta. Eu ainda sou uma menina que vive um dia de cada vez, dependendo de um Deus cuja concepção de sexo e amor é muito além do que eu poderia sequer imaginar. Assim, a cada dia e todos os dias, eu oro a Deus para primeiro dirigir e depois redirecionar meu pensamento como for necessário.
E eu sou grata pois Ele é Fiel para me encontrar em algum lugar entre o mouse e a tela do computador."

*Texto retirado e traduzido do site Relevant Magazine e traduzido por Ale Seloti. O original está aqui sob o nome de Dirty Girls: The new porn addicts.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Milagres no YouTube


A cena é bem usual numa igreja pentecostal. Um pastor ora por uma mulher, cercado de pessoas que intercedem por ela e dão glórias a Deus em voz alta. Mas aí começa a parte não usual: a cabeça da senhora parece se abrir e dela aparentemente saem dois pedaços de carne; tumores, segundo o pregador. A congregação fica eufórica. Depois, a ferida na testa da irmã some como por mágica. O episódio, supostamente o registro de um milagre, já causaria polêmica no ambiente evangélico. Só que tudo o que aqui foi descrito está acessível a qualquer pessoa, em qualquer lugar, do Japão à Groenlândia, desde que tenha um computador com acesso à internet e saiba digitar www.youtube.com.

Esse é o endereço do site You Tube, que vem revolucionando a forma de se exibir vídeos na web. Nele, é possível transmitir áudio e vídeo, sejam filmagens caseiras, propagandas, desenhos animados, trailers de filmes ou qualquer outro recurso audiovisual. Foi lá, por exemplo, que cenas tórridas da apresentadora e modelo Daniela Cicarelli, fazendo sexo com o namorado numa praia da Espanha, foram apresentadas para todos os continentes. E, agora, dezenas de vídeos com possíveis milagres também estão sendo exibidos para quem quiser ver.

Para compreender a extensão do fenômeno, nada explica melhor do que os números. Criado em fevereiro de 2005, You Tube é um dos sites que mais cresceram na internet no último ano. Segundo a publicação sobre tecnologia IDG Now, os acessos mensais dispararam de 57 mil para 1,2 milhão num período de cinco meses no Brasil. Nos EUA, o aumento foi de 58 mil para 12,6 milhões em oito meses. Tanto que seus criadores venderam a empresa para o portal Google por 1,65 bilhão de dólares. Repita-se: bilhão. Atualmente, ela tem um acervo de cem milhões de vídeos. A cada 24 horas, são incluídos 65 mil novos arquivos, com duração média de 2 a 5 minutos.

O segredo para fazer acontecer esse fenômeno de popularidade foi permitir que os donos de blogs (diários virtuais na internet) pusessem vídeos do You Tube em seus espaços pessoais. Com isso, o site ganhou distribuição em escala global. Oficialmente, não existe censura no You Tube, mas o usuário recebe um alerta em casos de vídeos com conteúdo violento ou pornográfico.
Se todo o mundo descobriu esse espaço, os evangélicos não ficaram de fora, como aqueles que postaram a cena do suposto milagre, descrita na abertura desta reportagem. Para conferir, basta acessar o link www.youtube.com/watch?v=I2HEFf3ezKs. Mas essa, de longe, não é a única ocorrência.

Absolutamente impressionante é a série de nove clipes chamada ‘’Milagres na Nigéria’’. Num dos vídeos (www.youtube.com/watch?v=m4bTmSpEf1Q), um homem de 27 anos, Folorunsho Ibikunle, é apresentado com um câncer nas nádegas capaz de chocar até os estômagos mais fortes. Deitado num local imundo, com vermes passeando pelo corpo, ele é levado à igreja Church of All Nations [Igreja de Todas as Nações], conhecida como The Synagogue [A Sinagoga], em Lagos, na Nigéria. Depois, é visto numa segunda etapa com a ‘’cratera’’ que havia em seu corpo já cicatrizada. Por fim, aparece dando o testemunho, 100% sarado. Difícil duvidar do milagre, mesmo um não-crente que veja a gravação.

Da mesma série, uma mulher com lepra (ou câncer, não se sabe ao certo) nos lábios aparece antes e depois da cura, junto com o letreiro, em inglês, ‘’a Deus seja a glória, pois por suas feridas somos sarados’’. No mesmo vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=bpx_DUKO1is&mode=related&search=), um homem nu, com o corpo totalmente consumido pela lepra, é mostrado doente e depois sarado. As imagens são tão fortes e as curas tão patentes que é difícil conter as lágrimas. O mesmo clipe ainda mostra mais duas pessoas sendo curadas, uma de mal de Parkinson. Instantaneamente.

Os vídeos foram postados pelo webmaster Junior Reichert, de 39 anos, membro da Assembléia de Deus – Ministério Madureira, com sede em Curitiba (PR). Ele já passou para o You Tube mais de 30 filmagens mostrando possíveis milagres. Para Reichert, o que o levou a tomar essa iniciativa foi ‘’a necessidade de mostrar ao mundo, mas principalmente ao povo que se diz cristão, que o nosso Deus não mudou’’.

E a repercussão tem sido imensa. Reichert assegura que todos os dias recebe e-mails comentando os milagres. ‘’Não só do Brasil, mas de pessoas que estão em outros países, como Alemanha, Argentina, Chile, Japão, Portugal, Suíça, Noruega etc.’’.

O webmaster acredita no poder evangelístico do You Tube. ‘’Sem dúvida é um ponto muito forte para evangelização’’, diz. ‘’Pessoas não-evangélicas estão vendo um pouco do que o Deus vivo pode fazer!’’. Ele conta que ainda não soube de casos de pessoas que tenham se convertido após assistir aos vídeos, mas que conhece muitos que têm sido renovados espiritualmente e voltado aos pés do Senhor.

Outro usuário, identificado como Derli Dias, postou, em www.youtube.com/watch?v=IlOA-T-hPR0&mode=related&search=, o testemunho de mulheres que afirmam ter sido curadas de caroços e tumores nos seios.
CURA DE TUMORES

Apresentar o testemunho de uma cura miraculosa também foi o objetivo de um internauta, identificado pelo apelido ‘’Jesusumsodeus’’, ao disponibilizar o caso de Maria de Fátima Farias. Segundo informação apresentada no site, ela tinha câncer e sangramento vaginal. Os médicos disseram que não tinha cura. Hoje, está curada. O depoimento está em www.youtube.com/watch?v=MDBg4vXJys8&mode=related&search=. Além da história de Maria, o responsável também postou pelo menos outros 15 testemunhos no You Tube.
O vídeo ‘’irmãos cegos são curados’’ mostra algo que, se confirmado, é a concretização de algo que muito se fala mas pouco se vê nas igrejas: um casal de irmãos recebe a oração do apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, em São Paulo, e passa a enxergar. Acessíveis no link ww.youtube.com/watch?v=HxKcp8UlhAE, as imagens foram disponibilizadas pelo próprio Santiago.

Outro suposto milagre que qualquer pessoa pode ver é o link ‘’hérnia sai pelo umbigo’’ (www.youtube.com/watch?v=Dub1GpUDnGo), em que um senhor recebe oração do pastor Makiã Santos. Após cinco minutos de oração, uma bolinha preta aparece no umbigo do irmão. Segundo o pregador, é uma hérnia.

Como se pode ver, exemplos não faltam. E a tendência é haver cada vez mais material do gênero no You Tube. Mas o fato de vídeos tão polêmicos serem expostos a todo o mundo sem uma explicação, uma referência ou uma orientação poderia causar escândalo em vez de disseminar positivamente o poder de Deus? ‘’Escandalizar, não. Mas polemizar, com certeza’’, reconhece Junior Reichert. Para evitar abusos e enganos, ele garante que toma o cuidado de analisar cada vídeo antes de postar.

Isso não impede que haja reações negativas. O internauta Menegon 1986 deixou um comentário no espaço reservado às opiniões de cada usuário. Em uma palavra, resumiu seu sentimento diante dos testemunhos de cura. ‘’Ridículo’’, escreveu.

Apesar das reações negativas, o pastor Marcelo Eliziário Vidal, da Igreja Presbiteriana do Caju, acredita que o You Tube pode se tornar uma ferramenta eficaz de evangelização. Usuário da Internet e do site, pastor Marcelo assistiu aos vídeos descritos nesta reportagem e ficou impressionado. ‘’Acredito que a pessoa não-cristã que tenha a chance de ver essas imagens pode até enfrentar uma confusão momentânea, mas depois terá sua curiosidade aguçada e vai procurar se informar sobre aquilo. É possível até que daí venham conversões’’.

ORIENTAÇÃO NÃO GERA CONFUSÃO

Ele concorda que o ideal seria postar cada clipe junto com informações bíblicas ou orientações teológicas, para facilitar o entendimento do internauta. Mas pastor Marcelo não vê impedimento algum em usar sites como o You Tube para levar para fora das paredes das igrejas imagens a que até agora o grande público não tinha acesso. ‘’O grande problema é quem usa e como usa. O You Tube pode ser uma arma maléfica ou benéfica. Para mostrar milagres, o crescimento de igrejas e outras coisas que glorifiquem o nome de Jesus são extremamente benéficos’’.

O pastor Marcos José Filho, vice-presidente da Assembléia de Deus na Ilha do Governador (Adig), no Rio de Janeiro, compartilha dessa opinião. Ele se baseia em 1 Co 9.22, que diz: ‘’Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns’’. ‘’Todos são todos. Todos os meios são válidos para alcançar vidas. Nesse sentido, o You Tube é muito importante, porque cada vez mais as pessoas se isolam em casa e a internet é um canal fundamental para chegar até elas’’, explica.

Marcos Filho é antenado com a tecnologia. Acessa regularmente a internet, tem comunidade no Orkut e já entrou muitas vezes no You Tube. Além disso, sua igreja transmite os principais cultos, ao vivo e sem cortes, pela web (www.adig.com.br). Ele acredita que o ideal seria que cada vídeo viesse acompanhado de uma orientação, para não confundir o internauta. ‘’Se um clipe é solto no ar sem um fechamento, sem amarrar a questão, a essência do que é mostrado pode se perder. Mas, mesmo sem nenhuma orientação, as imagens em si já são muito importantes, pois muita gente sabe reconhecer aquilo’’.

Diretor do Instituto Bíblico da Adig (Ibadig), Marcos Filho também ressalta que, além do enfoque evangelístico, os vídeos de milagres têm peso para a edificação espiritual. ‘’Nunca presenciei milagres tão impressionantes como os da Nigéria, a que assisti no You Tube. Ver aquilo nos leva a pensar por que esses fenômenos acontecem daquela forma naquele lugar e não na nossa igreja. Isso nos incentiva a buscar cada vez mais a Deus’’, conclui.
*Maurício Zagari - (Revista Enfoque Gospel).

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A submissão da mulher

Como, por que e para quê ler Efésios 5.22-24, que diz: “Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos”? Penso que precisamos levar em conta alguns pressupostos, uns gerais e outros específicos.

PRESSUPOSTOS GERAIS

1. A Bíblia ainda é o livro que rege as nossas vidas. Ela nos fala de princípios, que são imutáveis, porque inspirados por Deus, que conhece o tempo e não muda com ele. Nosso pensamento deve estar em conformidade com a Bíblia; não com a nossa interpretação, mas com o texto. Precisamos nos expor a ele para que nos exponha o conselho de Deus.

2. Mesmo que o contexto histórico em que surgiu o conselho de Deus seja outro, este conselho continua sendo de Deus.O contexto, no entanto, é fundamental para entendermos o sentido do texto e para o aplicarmos ao nosso contexto.

3. Precisamos saber que os padrões bíblicos se inscrevem numa ordem espiritual, não numa ordem natural; para ficarmos com os padrões naturais, não precisaríamos da Palavra de Deus. É a realidade que deve se conformar à Palavra de Deus, e não o contrário.

PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS

1. O ensino paulino sobre a mulher está adiante do seu tempo.

Na sociedade romana, o casamento nada tinha a ver com amor. Era arranjado pelas famílias. Quando casada, uma mulher romana estava sob a jurisdição do seu marido ou do pai dela, dependendo do tipo de contrato celebrado. O propósito do casamento era garantir a sucessão familiar, para que os espíritos dos mortos fossem honrados.

A razão para o casamento não era o amor, mas a procriação. Por esta razão, o divórcio era natural quando a mulher não pudesse cumprir esta sua função. O homem geralmente era promíscuo. Algumas esposas também o eram, mas discretamente, porque seu gesto poderia ser considerado infidelidade. O do homem, não.

Um homem geralmente se casava aos 30 anos, e uma mulher aos 18, ou antes. Cabia ao homem ensinar essa adolescente a viver na nova casa, uma casa onde havia escravos e era semipública. A expectativa média de vida da mulher na Roma antiga era, no máximo, de 30 anos. Eis o epitáfio de uma destas mulheres (Vetúria): casada aos 11, mãe de seis filhos e falecida aos 27.

As mães precisavam ter muitos filhos, porque não sabiam quantos sobreviveriam. Os maridos da aristocracia esperavam que suas esposas estivessem permanentemente grávidas. Os pobres, não, por falta de recursos para sustentar os filhos. As mulheres não podiam escolher ter ou não ter filhos. Além da maternidade, as mães podiam participar da educação dos filhos.

As mulheres não tinham qualquer possibilidade de escolha pessoal. Elas estavam sempre sob a supervisão dos seus pais, parentes masculinos e maridos, que geralmente as beijavam na boca... para sentir se tinham bebido vinho, algo proibido para mulheres, por estimular ao adultério.O mundo romano antigo era a cultura patriarcal, com os homens controlando todas as posições de poder. Mulheres e crianças não tinham qualquer poder. Uma mulher raramente acompanhava seu marido e filhos às refeições. E só podia comer quando acabasse a conversa à mesa, onde não podia se assentar, mas num banco ao fundo. Na família romana, portanto, a idéia de igualdade no lar simplesmente não existia.

2. Embora venhamos a ter algumas dúvidas sobre como entender a recomendação paulina acerca da submissão da mulher, podemos ter certeza do que o texto não diz:

• Paulo não diz que a mulher não pode ocupar funções de liderança, inclusive de ser pastora. Quem lê o livro de Atos dos Apóstolos e as cartas paulinas nota, com abundância, a consideração que tinha para com elas em seu ministério.

• Paulo não aplica a submissão da esposa a todas as áreas da experiência humana. A instrução é específica ao contexto da vida de uma família cristã e não se aplica à política, aos negócios e nem mesmo à igreja.

• Paulo não recomenda que a esposa deve obedecer ao seu marido como se não tivesse gosto ou vontade próprios. Filhos e servos devem obedecer. Esposas devem se submeter. Portanto, quando fala dos deveres dos filhos e dos servos, Paulo pede que obedeçam a seus pais e a seus senhores (hupakouete). Quando orienta as esposas, ele pede que se submetam (andrasin). Esta diferença não pode ser ignorada se quisermos entender o sentido da instrução paulina. A diferença não pode ser desconsiderada. A mulher não deve se esconder atrás desta submissão para se livrar de suas responsabilidades, como Eva tentou fazer. Safira foi tão culpada quanto Ananias, e morreu junto com o marido porque também pecou. A mulher tem o direito e o dever de discordar do seu marido, se for o caso.

• Paulo não autoriza o marido a tratar sua esposa como pessoa inferior, como se fosse ele um déspota que reinasse sobre sua mulher. Paulo não autoriza o marido a tratar sua esposa como uma criança a ser cuidada, porque incapaz. Paulo não admite que o marido possa desrespeitar sua esposa, humilhando-a (porque ela não trabalha fora, por exemplo), vigiando-a (por causa do ciúme doentio), proibindo-a disto ou daquilo (estudar, trabalhar fora, participar de uma igreja), tratando-a como empregada ou prostituta particular, sufocando-a em suas necessidades. Paulo não sinaliza que o marido pode cometer violência, física ou psicológica, contra sua esposa, porque Deus não é cúmplice da covardia.

A SUBMISSÃO DA MULHER AO MARIDO SEGUNDO A BÍBLIA

1. Marido e mulher são seres diferentes.A submissão feminina é o reconhecimento das diferenças de gênero. Homem e mulher são diferentes, logo têm papéis diferentes, que devem ser valorizados. Ambos podem se destacar no mundo dos negócios, da política, da educação e da ciência, mas há papéis, biologicamente ou culturalmente dados, que cabem a cada um. No desenvolvimento destes papéis, homem e mulher, marido e esposa, são complementares.
Tornou-se politicamente correto afirmar a igualdade absoluta entre masculino e feminino, mas esta assertiva é equivocada se não incluir a dimensão da diferença, sem superioridade, sem inferioridade.

2. A submissão feminina é a afirmação que o relacionamento entre marido e mulher deve ser exclusivo, no sentido de ser um para o outro. O amor e o cuidado devem ser mútuos, com um servindo ao outro. Nem homem nem mulher é mais importante do que o outro aos olhos de Deus (Gálatas 3.28), pois Deus os criou à sua imagem (Gênesis 1.27) e os tornou co-herdeiros do dom da graça da vida manifestado em Cristo Jesus (1Pedro 3.7).

3. A submissão feminina quer dizer que uma família precisa de uma liderança. Nenhum organismo social vive sem uma liderança.

Marido e mulher podem inclusive se especializar na liderança.O casal pode combinar, por exemplo, que a gestão financeira poderá ficar sob a responsabilidade daquele que for mais capaz de gastar menos...Uma eventual especialização não altera o papel do homem na vida familiar. Muito do que há de pior nas famílias advém da omissão masculina. Portanto, numa situação ideal, em que o casal busca a plenitude do Espírito Santo, a liderança é masculina. No entanto, vivemos num mundo decaído, onde presenciamos o abandono, a infidelidade, a insanidade, a violência doméstica e a dependência química.

Uma esposa abandonada não pode esperar que o marido ausente lidere a família; esta tarefa tem que ser assumida por ela, se não quiser que a fome campeie e a desagregação se estabeleça de modo definitivo. Uma esposa sabidamente traída precisa assumir sua dignidade, não esperando que um marido adúltero diga a ela e a seus filhos como devem agir. Um marido infiel está moralmente incapacitado para liderar a família.Uma esposa física ou emocionalmente agredida por seu marido está desobrigada em aceitar a violência como decorrência da liderança masculina.

A violência de um homem contra sua esposa é uma demonstração de insanidade, que o desqualifica como líder. A mulher tem o dever de preservar sua saúde física e emocional, buscando uma delegacia, se for o caso, para denunciar seu cônjuge.

Uma família em que o marido/pai ficou enfermo mentalmente não deve esperar que ele assuma seu papel de líder enquanto precisa de recuperação. Ele deve ser respeitado, amado, querido, mas não pode ter sobre si mais este peso, que o debilite ainda mais. A esposa precisa assumir a liderança da casa e até do tratamento do esposo.

Uma família em que o marido/pai se tornou dependente de drogas, seja o álcool ou os tóxicos, não pode permitir que este homem lidere a casa, sob pena de sofrer um naufrágio coletivo, uma vez que a dependência devasta a saúde física, emocional e financeira de uma família. A esposa deve assumir a liderança e investir na recuperação do esposo.

Numa família que procura viver sob o Espírito de Deus, o marido assume o seu papel, amando a sua esposa, amando os seus filhos, sem se impor com frases do tipo “aqui quem manda sou eu”, próprias dos fracos.Submissão é uma atitude do coração, não um ato. Um casamento triunfará se for entre iguais.

Um casamento entre iguais vai além de papéis e fórmulas. Só o casamento entre iguais permite a verdadeira intimidade. O casamento é o espaço da comunhão entre iguais.Se for baseado na autoridade, o casamento fracassará, mesmo que os dois continuem coabitando. O relacionamento no casamento não é de hierarquia, com o marido no trono e a mulher no chão, mas de parceria.

*Israel Belo de Azevedo