sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

HORÁRIO ECLESIÁSTICO

*Um retrato fiel de um estilo de vida !!!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

OUTRA LITURGIA PARA OUTRA CULTURA


Todas as sociedades primitivas possuíam cerimônias especiais conhecidas como ritos de iniciação ou de passagem. Mais do que uma transição individual, os ritos representavam a sua aceitação e participação na sociedade.

Compreeder os ritos em sua essência, ajuda o ser humano a lidar bem com as mudanças da vida e a assumir novas responsabilidades. Ajuda também, a dar melhor historicidade e firmar valores pessoais.Os rituais costumavam pontuar desprendimento, fechando um ciclo existencial e dando inicio a outro. O indivíduo deixava para trás coisas velhas para assumir outras novas.

Declarava-se no rito uma mudança de atitude e até mesmo de alteração de um grupo de relacionamento pessoal.

Vez por outra, o indivíduo chegava a trocar de nome o que representava uma radical mudança, uma declaração de ser uma nova pessoa a partir daquele instante.

Apesar do esvaziamento do significado original, alguns ritos ainda subsistem. Hoje em dia, as comemorações de 15 anos representam muito mais um evento social, do que o marco de uma nova fase na vida da mulher.
O batismo cristão serve como exemplo, de como com o passar do tempo, os ritos podem perder a força de seu real sentido. Visto apenas como uma pró-forma da religião, percebe-se por parte de um bom número de indivíduos, uma certa indiferença quanto ao compromisso de realmente cumprir a promessa feita diante da comunidade da fé. De igual forma, o casamento, mesmo diante de diversas testemunhas e documentos assinados, não inibe a facilidade de sua dissolução. Nas sociedades primitivas, a mudança ou promessa de um rito, era além de desejável, inquestionável, sagrada e uma obrigação impossível de se quebrar. Romper colocava em risco a sobrevivência da sociedade.

A prática de um mesmo rito difere de uma cultura para outra. Trote do vestibular, casamento, funeral e enterro, formatura, bodas, noivado, e diversos outros.Cada um tem seu fundamento e serve para ratificar valores de uma sociedade. Por isso sua prática, a liturgia, precisa comunicar bem o propósito de sua existência. Sua execução precisa adaptar-se ao seu contexto cultural, para não perder o seu mais profundo significado.Deveríamos como cristãos diante de nossa atual sociedade, nos perguntar se nossos rituais transmitem a mensagem de seu real símbolo?

A Ceia como exemplo:

Para uma cultura festiva em que comer junto significava a celebração da fraternidade, da vida, a abertura do privado para o outro, a ceia transmitia bem a mensagem de “koinonia”. Palavra normalmente traduzida por comunhão, mas cujo significado envolve muito mais, pois ela contém os conceitos de serviço, solidariedade, justiça, igualdade, fraternidade e mutualidade.

Em uma sociedade monárquica, com classes sociais distintamente extremadas entre nobres e plebe, não haveria melhor maneira de demostrar a maravilha do reino de amor e justiça, do que através de um ritual em que o soberano servisse o vassalo.

Que significado teria a mesma ação em uma sociedade que se propõe igualitária?

Se nesta sociedade se valoriza mais o indivíduo do que a vida comunitária, e se sua cultura alimenta o egocentrismo, e o cidadão/consumidor tem seus direitos inalienáveis, o governante tem a obrigação de servir e é direito do governado ser servido.

Em nossa atual cultura o ritual da ceia transmite o significado de koinonia?
O amor para preservar sua essência precisa ser compartilhado ou deixa de ser amor. A ceia é um rito que simboliza o mais profundo amor.

Que tipo de significado tem para nossa sociedade um rito de doação, cuja prática em si transmite uma mensagem de recebimento?

Numa sociedade que luta pelos direitos individuais, como se deveria realizar um rito de caráter comunitário que significa doação e compartilhamento?

De maneira geral no atual ritual da ceia, cada crente permanece sentado em seu próprio lugar. Sem praticamente nenhuma interação com o outro, toma dos elementos das mãos de um único. Fecha seus olhos e numa postura isolada se concentra numa espiritualidade individual. A mensagem oral de comunhão é contraditada pela mensagem transmitida na prática do rito. Cada um é levado a se comportar individualmente como expectador da celebração.Ela superestima a relação individual com Deus e subestima a relação comunitária com Deus. E uma não existe sem a outra. A ceia como parábola viva, deve revelar em seu ato, a verdade espiritual.

Se retirasse as palavras da ceia o que a liturgia transmitiria?

Penso a mensagem mais significativa da ceia como Corpo e Aliança.Assim como Cristo se deu por nós devemos nos dar pelo outro, por isso a ceia transmite uma mensagem de um para com o outro: “este é o meu corpo dado a você” e de igual maneira “esta é a aliança que tenho com você”. Minha vida é sua e a sua é minha. Mensagem de pertencimento, pois há somente um pão e os que dele participam formam um só corpo. (1 Jo 3:16; 1 Cor 10:17)

Se toda nossa liturgia levar as pessoas a um comportamento de platéia, público, auditório e expectadores e somado a isto, se os figurais como púlpito, pregação, ministro de louvor, a disposição das cadeiras e o programa transmitirem uma mensagem de que alguns servem (ministram) e outros assistem, o tipo de envolvimento conseguido dos membros desta comunidade será apenas de expectadores.

Porque o rito e o ambiente promovendo mais o programa do que a vida comunitária e do que as relações interpessoais, num contexto que não compreende o programa como um serviço ou obrigação a Deus, pode-se acabar ressaltando no desenvolvimento social desta comunidade, um individualismo e descompromissado para com o outro.

A igreja precisa de um ambiente possível para que cada pessoa perceba que ela é única, mas não exclusiva.Que cada crente ao sair de sua igreja, após aquele tempo maravilhoso de culto, esteja consciente de que pertence a um corpo, tem co-responsabilidades.

Penso que a mensagem oral e litúrgica da igreja deva desafiar as pessoas para que se abram para a vida e para o outro. Torne-as gente que crê apesar de suas fragilidades, limitações, e da volúpia do mundo injusto.

A graça é garantia suficiente do amor de Deus e se revela indiscutivelmente nas relações de fraternidade; de carinho.

Como penso a igreja do futuro (?).


- Um espaço de oportunidades para todos se compartilharem.
- O mestre aquele que desperta a vida de Cristo no discípulo e menos preocupado em passar conhecimento.
- O apologeta aquele que defende prioritariamente a vida e o amor, e com habilidade em colocar a doutrina a serviço dos homens. Que considere heresia o desprezo pela vida.
- Crente ou salvo aquele que torne em seu viver a realidade de Cristo e não aquele confessa um credo.
- O culto uma celebração da vida e contemplação de Cristo no outro.
- A confissão pública uma declaração de amor e comprometimento com Cristo e não um assentimento intelectual de uma declaração de fé.
- O pastor hábil na arte de acolher, menos orador e mais ouvinte.
- Ministro de louvor alguém com mais alma de poeta do que profissional da música.

Enfim, enquanto não desfrutamos do novo céu e nova terra onde habita justiça, vivamos cada dia com graça e esperança, produzindo paz e gerando vida.




terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A nova morte de Deus

A morte de Deus já foi preconizada por Nietzsche e até por muitos teólogos. Infelizmente, muitos que deviam viver em comunhão com o Senhor continuam matando-o. Há igrejas e crentes formalistas, que se dedicam ao lado institucional e organizacional do cristianismo em que o que vale é o trabalho da igreja. Uma pessoa se converte e logo é adestrada para se envolver intensamente com as atividades da congregação, transformando a igreja num fim em si mesma. Ali, trabalha-se tanto para a obra de Deus que se esqueceu do Deus da obra – ou seja, mataram o Senhor e, em seu lugar, foram colocados eventos e muita ação dos membros. É o evangelho pragmático e institucionalizado de muitas igrejas históricas.

Há também igrejas que reagiram a esse ativismo mecanicista em busca de uma experiência espiritual, segregando as outras co-irmãs – a quem chamam de ativistas –, como se não tivessem o Espírito Santo. A busca do “poder” acaba satisfazendo a vida mais emocionante, valorizando mais a experiência carismática do que o próprio Deus que, afinal das contas, é quem a concede. No vácuo causado pela morte de Deus, criaram outro, que pudesse lhes dar poder de fazer milagres e curar com hora marcada. Neste caso, enquadram-se muitas igrejas pentecostais e carismáticas.


Há também aqueles que hoje são fortes em oferecer um Evangelho que mais parece mercadoria, disponibilizando bens simbólicos da religião para satisfazer as pessoas em seu projeto de vida boa. Mataram Deus, transformando-o em servo, em mercadoria barata, oferecida em troco de uma boa oferta, também chamada sacrifício. Temos aqui as igrejas neopentecostais.


Ultimamente, tem surgido um outro movimento que provisoriamente tenho chamado de “adoracionismo”, que segue de perto o profetismo místico descrito por Max Weber. São aqueles crentes que curtem um “transe” de meditação gospel – gostam de viver no “monte da transfiguração”, vivem da contemplação no meio de louvores que elevam sua alma ao sétimo céu, mas se desligam do cristianismo de uma vida real, comprometida com os valores éticos bíblicos. Vivem adorando a Deus, mas na realidade podem tê-lo matado para dar vazão ao seu próprio sentimento de bem estar interior. É como se fosse uma ioga evangélica, uma catarse de fim de semana.


Mas Deus é vivo e real. Ele é Deus, soberano; devemos tê-lo como nosso Rei, reconhecendo nossa limitação, nossa finitude, nossa corrupção. Devemos nos render aos seus pés e viver para alegrá-lo, agindo com cristãos neste mundo que precisa de exemplos concretos de uma vida com significado além do mero antropocentrismo que deseja reduzir Deus ao tamanho de nossos desejos ou angústias. Cristianismo fora disso significa mesmo a morte de Deus.

Lourenço Stelio Regaé teólogo, educador e escritor.