sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Uma mensagem para o coração brasileiro


“Quem não se comunica se trumbica”, dizia o Chacrinha. Como pastor pentecostal, acostumei-me à comunicação oral e já ouvi excelentes comunicadores. Aliás, a maioria dos púlpitos brasileiros prioriza a retórica. Entretanto, a pergunta é: os tribunos evangélicos são bem-sucedidos na transmissão da sua mensagem? Sim, caso se considere o espetacular crescimento numérico dos crentes. Não, caso se avalie o recrudescimento dos preconceitos e uma ostensiva rejeição aos evangélicos entre os formadores de opinião.

Ouço relatos de discriminação contra pastores quando precisam preencher um cadastro de crediário, quando alugam casas ou fazem o “check in” do hotel. O senso comum é que pastores são falastrões, sempre ávidos por dinheiro. Eugene Peterson conta a aflição de uma conversa com um passageiro que viajava ao seu lado pela Ásia. Em determinado momento, o homem indagou o que Peterson fazia. “Sou pastor”, respondeu. O que se seguiu foi constrangedor: “Pastor, responda-me, por favor: por que, quando viajo perto de um monge budista, tenho a sensação de estar ao lado de um santo homem de Deus, mas junto de um pastor, fico com a impressão de que estou acompanhado de um homem de negócios?”
Para comunicar uma mensagem para o coração do brasileiro é preciso mais que retórica. O conteúdo da enorme maioria dos sermões restringe-se a chavões surrados, reciclados e esvaziados, por excessivo uso. Os versículos usados são restritos a cerca de uns cem, preferivelmente descrevendo a vitória na guerra e milagres excepcionais, como o mar que se abriu e o sol que parou. Os melhores evangelistas decoram esses poucos textos para citá-los feito metralhadora no meio do sermão. A arte da retórica funciona bem para os que já se acostumaram com a linguagem daquele ambiente, mas para quem precisa organizar os conceitos para melhor entendê-los não bastam as frases prontas.

Para comunicar uma mensagem para o coração brasileiro é preciso que o discurso se alicerce na credibilidade. Cansados de corrupção, de enganos e de ouvir contos-do-vigário, o povo precisa confiar que os pastores não participam da mesma cultura dos caudilhos, dos coronéis, das oligarquias, das elites que só se locupletaram com a miséria. Se os líderes religiosos passarem a idéia de serem espertalhões, as pessoas os procurarão apenas para “conseguir” uma bênção, mas nunca organizarão a vida a partir de seus valores. Assim os pastores se condenam a meros feiticeiros, que sabem acessar o sobrenatural para alcançar milagre. A magia substitui o discipulado, e a técnica, o relacionamento.

Para comunicar uma mensagem para o coração brasileiro é preciso que haja sintonia entre o sermão e a vida. Não adianta lidar com conceitos que fazem todo sentido numa torre de marfim, mas que não se conectam com a difícil realidade. Como o evangelho não doura a pílula existencial, os pastores não podem ter a pretensão de que, “em tese”, o crente literalmente anda sobre as águas, pega em serpentes sem ser picado e bebe veneno. Mesmo cristãos, mulheres e homens pegam ônibus lotados, esperam semanas por uma vaga em ambulatórios públicos e sobrevivem de subempregos.

Para comunicar uma mensagem para o coração brasileiro é preciso que se fale com poesia e com ternura. Em “Casa-Grande & Senzala”, Gilberto Freyre atribui o jeito manhoso e delicado do brasileiro à influência das negras na educação do Brasil colonial. “Dói dos grandes tornou-se o dodói dos meninos. Palavra muito mais dengosa. A alma negra fez muitas coisas com as palavras, o mesmo que com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. Daí esse português de menino que no Norte do Brasil, principalmente, é uma das falas mais doces deste mundo”. A aspereza do mundo anglo-saxônico não combina com esse amolecimento da linguagem: “E não só a língua infantil se abrandou desse jeito, mas a linguagem em geral, a fala séria, solene, da gente grande, toda ela sofreu no Brasil, ao contato do senhor com o escravo, um amolecimento de resultados às vezes delicioso para o ouvido”.

Para comunicar uma mensagem para o coração brasileiro é preciso que se restaure a dimensão lúdica da fé. Por décadas os missionários tentaram mostrar que fé combinava bem com austeridade. Reverência virou sinônimo de rigidez. Mas brasileiro chega atrasado, não se sente bem de terno e gravata e detesta ambientes protocolares. Enquanto os cultos solenes exigiam becas, togas e hinos com música e métrica rebuscadas. O protestantismo manteve-se estrangeiro enquanto insistiu em liturgias suntuosas que não combinavam com a informalidade nacional. Os pentecostais conseguiram enorme penetração nos estratos mais populares porque contextualizaram os cânticos, improvisaram os sermões e bagunçaram a liturgia.

Para comunicar uma mensagem para o coração brasileiro é preciso que se faça teologia com tolerância. O fenômeno do duplo, e até triplo, pertencimento não é anomalia católica, mas um traço cultural. O brasileiro não se constrange de freqüentar e conviver com diversas influências espirituais. O protestantismo tupiniquim absorve, rapidamente, peculiaridades tanto do catolicismo popular quanto das religiões afro-brasileiras. Portanto, é preciso acabar com as intransigências que promovem ódios religiosos.

Finalmente, para comunicar uma mensagem para o coração brasileiro é preciso que se fale aos sentimentos mais que à mente; que se transmitam os afetos divinos e não os áridos pressupostos da teologia; que se promova a solidariedade; que se busque a justiça; e que se produza uma geração de mulheres e homens bons, parecidos com Jesus de Nazaré.

“Soli Deo Gloria”.

• Ricardo Gondim é pastor da Assembléia de Deus Betesda no Brasil e mora em São Paulo.

domingo, 16 de novembro de 2008

Batalhar pela fé


A fé cristã é uma completa certeza em Cristo, pela qual atingimos a perfeita comunhão com o Senhor. De acordo com a história, os cristãos sempre acreditaram que os eventos bíblicos, verdadeiramente aconteceram como descritos na Bíblia. Milagres como o nascimento virginal de Jesus, os prodígios que o próprio Senhor Jesus Cristo realizou, sua ressurreição corporal dentre os mortos, os milagres do Antigo e Novo Testamento, de modo geral, são todos considerados fatos.
Em meio aos amplos embates teológicos que marcaram o século XVI, quando o estabelecimento dos axiomas reformados era o centro das preocupações para identificar o pensamento protestante, homens como Martinho Lutero e João Calvino dedicaram muito de seus esforços ao entendimento da fé.

Pela fé entendemos a criação de todas as coisas (Hb 11:3); esta certeza é como estar vendo o invisível, não é uma concordância cega e desvairada, mas um sentimento baseado nos fatos da obediência a Jesus Cristo e a Sua Palavra. Esta confiança é apresentada como a única condição prévia, que o Senhor Deus requer do homem para a salvação; pelo Evangelho descobrimos a justiça de Deus que nos ensina a viver pela fé (Rm 1:17).

Então entendemos que ela é nossa maior riqueza? Claro! Ela é como o ouro provado no fogo! Assim compreendemos que sua defesa é necessária, vejamos o que o Senhor nos diz: “Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.” (Jd 1:3)

A epístola de Judas não fica no centro de debates teológicos importantes, mas o tema que aborda é de importância basilar a veracidade cristã; seu escritor surge conclamando seus leitores a considerarem o que acontece quando pessoas que professam seguirem a Cristo negam a fé, agindo numa situação que poderiam ser chamadas de ímpias.

Judas fala de pessoas que tentavam transformar em devassidão a graça de Deus, ensinos que, seja como for, Deus perdoaria aqueles que de contínuo entregavam-se às concupiscências carnais; ou então, que os que vivessem na obscenidade estariam para sempre seguros se, no passado, eles creram em Jesus Cristo. Pregavam a absolvição da iniqüidade, mas não na exigência da santidade.

Na verdade Judas queria dizer: Perigo! Falsos Mestres!

Recordo que certa vez quando lecionava na escola bíblica dominical, o caso de imoralidade sexual de um diácono da igreja, foi tema de um sério debate (pois a maioria da classe defendia o perdão de um homem que insistia em trair sua esposa, sem demonstrar menor temor ao Senhor). Fiquei atônito com o pensamento da classe (70%), pois tinham a fantasia de que amor divino suplantaria Seu propósito de justiça e integridade moral.

Infelizmente esta contraversão de pensamentos vem se disseminando na igreja contemporânea, a carta de Judas fala no presente como falou a todas as eras precedentes. Essa moda de ser tolerante com qualquer coisa que se denomine “cristã”, é a causa principal para as divergências na igreja. Os crentes em Cristo autênticos, todavia, defenderam as predições de juízo, contra esta doutrina pagã que desde ao primeiro século de nossa igreja vem nos assombrando.

Meu convite a você cristão fiel, é batalhar na defesa da fé; é tomar uma posição firme contra aqueles que, em nossas igrejas distorcem a doutrina verdadeira de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Devemos dar um basta a esses que tentam “remodelar” o evangelho, tendo com interesse que ele venha a perder sua essência.

“Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes.” (Tt 1:9)

A mais simples definição da fé cristã é uma confiança que nasce do coração, é dom de Deus!

Eduardo Neves

Obs.: O diácono citado neste texto se desviou do evangelho, e continua vivendo em toda impureza pecaminosa que permeia a sociedade corrupta e imoral.