domingo, 24 de maio de 2009

Somos todos devedores



As estatísticas revelam o fato de que uma alta porcentagem da população brasileira tem dívidas contratadas para adquirir algum bem material. A maioria das pessoas paga parcelas da dívida sem falhar. As penalidades impostas convencem aos devedores de que é melhor pagar as prestações em dia do que sofrer as conseqüências da irresponsabilidade.

Mas há dívidas que não pesam porque os devedores não assinaram qualquer contrato ou compromisso com os credores. Será que Filemom reconheceu que ele devia sua própria vida a Paulo (Fm 19)? Será que o sacerdote e o levita acharam que eram devedores quando passaram ao largo do viajante ferido que caíra nas mãos de assaltantes (Lc 10.30,31)? Será que o rico sentiu algum peso por dever algo para o mendigo Lázaro, que aguardava alguma migalha jogada da mesa?


Podemos lembrar múltiplos débitos”, diz Charles Gore. “O solitário a quem poderíamos visitar, o mal compreendido com quem poderíamos ser solidários, o ignorante a quem poderíamos ensinar. Não é desconcertante tentar imaginar nossas dívidas? E, contudo, deixe um homem tomar a iniciativa e tudo ficará bem. Deixe-o calmamente decidir agir em relação àqueles que ele emprega, ou àqueles que o empregam, em direção ao porteiro da estrada de ferro e aos assistentes de lojas e outros que ajudam em sua comodidade, como homens e mulheres com o mesmo direito de receber tratamento cortês...” (Refrigério para a Alma, Shedd Publicações).


É fácil se equivocar ao lembrar a dívida de Paulo para com os gregos, sábios, bárbaros e ignorantes (Rm 1.14), imaginando que receber o presente da salvação nos faz devedores de Cristo, que pagou o preço de valor infinito na cruz para cancelar nossa dívida.


Porém, não é bem assim. A salvação pela graça não é dívida devida a Deus! Se fosse assim, não seria fruto da graça. Graça não cria dívidas nas pessoas que se beneficiam da oferta de escapar do castigo do inferno e gozar do imerecido privilégio de gozar da herança celestial.


Mesmo assim, Paulo reconhecia uma dívida pesada. Todos nós temos esta dívida também. Somos devedores dos que perambulam no lado de fora das nossas igrejas, dos que não têm filiação na família de Deus por ignorarem o direito que lhes cabe de participar do banquete do Rei na história de Jesus. O Rei disse aos seus servos: “O banquete está pronto... vão às esquinas e convidem para o banquete todos os que vocês encontrarem” (Mt 22.8,9).


Os que sem qualquer mérito ou direito foram agraciados pelo convite para prestigiar o banquete do paraíso têm uma dívida que pode ser saldada pelo convite insistente aos que ignoram a grandiosa oportunidade de participar na festa gloriosa da vida eterna.


CONCLUSÃO


A exortação “Não devam nada a ninguém, a não ser o amor uns pelos outros” não desmente as outras declarações de Paulo sobre dívidas. O amor que devemos aos cristãos e não cristãos se torna prático e visível tanto no testemunho como em ações abençoadoras.


O propósito que Deus revelou em sua Palavra para o seu povo na frase que nos constrange a fazer boas obras (Ef 2.10) cabe aqui. Mas ações são boas somente quando motivadas pelo amor. O privilégio de participar da nova criação implica no pagamento desta dívida através do servir aos irmãos em amor e aos amigos como se devêssemos a eles trato carinhoso. Assim saldamos nossa dívida com ambos. Obedecer ao segundo grande mandamento cumpre este dever para com a família de Deus e a sociedade.


Paulo declara que o peso da dívida que sentia para com os de fora poderia ser saldada com a pregação das Boas Novas de Cristo. Para pagar sua dívida, não importava sofrer, receber açoites, passar por todo tipo de perigo, prisões e finalmente ser decapitado em Roma.


Acredito que ele foi um excelente pagador. E nós? Será que Deus não ama os ribeirinhos, os marginalizados, os presidiários, os famintos, tanto quanto ama a cada um de nós? O que estamos fazendo para sermos imitadores do excelente pagador que Paulo era? Temos levado as Boas Novas de Cristo a todos de forma indiscriminada?


*Russel Shedd / Atualmente, Shedd é Presidente Emeríto da Vida Nova e consultor da Shedd Publicações e viaja pelo Brasil e exterior ministrando em conferências, igrejas, seminários e faculdades de Teologia.