sábado, 24 de janeiro de 2009

Pornografia Virtual


O último lugar em que você esperaria ver um pornô seria na sala de estar de um pastor.
Mas entre o retrato quebrado de Natal da minha família e uma impressora matricial ficava a tela de um computador. Mal eu podia saber que o lugar onde eu digitei relatórios de livros ou mandei mensagens instantâneas aos amigos também se tornaria a porta para uma quantidade interminável do fruto proibido - e uma quantidade sem fim de culpa.

Crescendo como a filha de um pregador Batista, eu era o retrato de 16 anos de idade da ingenuidade. Minha família havia recém se mudado de uma pequena e isolada cidade no oeste do Texas para Dallas, e em questão de dias em minha nova residência, fui bombardeada pela prevalente cultura sexual de uma grande cidade.

Clubes de strip e cartazes acompanham as rodovias. Havia um sex-shop gigante a poucos quilômetros de nossa casa. Hormônios adolescentes inflamados e à tentação de me deixar levar pela minha curiosidade revelou - se uma combinação perigosa.

Meus pais e meu irmão adormeceram rapidamente enquanto eu conectei à Internet uma noite. Eu busquei a palavra “sexo” e em segundos tive acesso a um mar de loiras prateadas bem dotadas fazendo coisas com rapazes (e mulheres) que eu nunca havia visto antes.
Por morar em casa e o único computador estar na sala, não havia muitas oportunidades para fazer minha “pesquisa de educação sexual”, mas sempre que eu estava sozinha, eu rapidamente satisfazia meu interesse.

Eu me formei cedo no ensino médio e logo me mudei para fora de casa quando tinha apenas 17 anos de idade. Eu tinha o meu próprio espaço com o meu próprio computador, e todo o tempo livre no mundo. Eu ia trabalhar (em uma livraria cristã do bairro), voltava para casa, e olhava pornografia quase todas as noites.

Eu frequentava chats eróticos, assistia a filmes e navegava através de centenas e centenas de fotos. Logo meu problema com a pornografia começou a afetar meu desempenho no trabalho e meus relacionamentos.

É claro que nunca mencionei minha luta para ninguém. Pornografia era algo típico, até esperado, de rapazes, mas uma menina? Uma menina que gosta de pornografia? Eu questionava frequentemente minha orientação sexual.

Por que eu gostaria de olhar mulheres nuas? Eu era homossexual? Bissexual? Pervertida? Eu odiava muito o que estava fazendo. Eu sabia que era errado, mas não conseguia parar.

O ciclo continuou durante anos. Me sentindo culpada e jurando nunca fazê-lo novamente, e sucumbindo alguns dias mais tarde. Eu orava a Deus para levar embora os meus desejos. Foi quando eu percebi que era mais do que apenas olhar para as fotos.

Não podia deixar de pensar nisso, e eu tinha mais do que suficiente em imagens gravadas na minha memória para jogá-las novamente no pensamento, mesmo que eu conseguisse ficar fora do computador por um tempo.

Então, por que as mulheres lutam com isso? Embora estereotipicamente não somos tão visualmente estimuladas quanto os nossos colegas masculinos, não somos cegas. Há algo sobre o corpo de uma mulher que é bonito e misterioso, até mesmo proibido, e que brinca com a nossa psique e nos tenta.

Pelo menos para mim, ver estas mulheres perfeitas alimentava uma enorme necessidade emocional. Eu era capaz de me colocar no papel do que eu estava vendo, e, ao fazer isso, me fazia sentir bonita e aceita.

Eu me transformava num corpo perfeito, sexy, e eu era desejada e querida. Eu era capaz de escapar da minha aparência física imperfeita e ser transformada, em minha mente, nesta mulher perfeita.

Minhas atividades online também estragaram minha vida diúrna. Eu fui noiva por cerca de um ano e enganava meu noivo. Depois disso, eu “namorei” vários caras novos por mês, me envolvendo fisicamente com eles de alguma forma.

De acordo com tudo que eu tinha visto, ser aceita e amada significava um relacionamento sexual, e que menina não precisa ser aceita e amada? Fiz meu corpo e meu coração em pedaços durante esses anos.

Quando eu estava com 21, me envolvi em um grave acidente de carro que me levou a reavaliar a forma como eu estava vivendo minha vida. Naquela altura, eu estava fingindo que não havia Deus, exceto quando eu precisava do Seu perdão, e só então eu voltava correndo para Deus. Após o acidente, finalmente algo estalou, e eu percebi que amor não é igual a sexo.
Foi nesse momento que eu decidi dar meia volta - mudar o meu pensamento - e então minhas ações eventualmente (e com esperança) mudar também. Tive de dizer adeus aos meus hábitos online, e aos offline também.

Faz 10 anos desde o meu primeiro encontro com a pornografia online, e eu gostaria de admitir que eu fiz um caminho perfeito até a pureza. Gostaria de poder dizer que eu sempre me mantenho em pensamentos corretos ou desligo o computador quando a tentação começa a ser demais, mas a verdade não é esta.

"Eu ainda sou uma menina que luta. Eu ainda sou uma menina que vive um dia de cada vez, dependendo de um Deus cuja concepção de sexo e amor é muito além do que eu poderia sequer imaginar. Assim, a cada dia e todos os dias, eu oro a Deus para primeiro dirigir e depois redirecionar meu pensamento como for necessário.
E eu sou grata pois Ele é Fiel para me encontrar em algum lugar entre o mouse e a tela do computador."

*Texto retirado e traduzido do site Relevant Magazine e traduzido por Ale Seloti. O original está aqui sob o nome de Dirty Girls: The new porn addicts.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Milagres no YouTube


A cena é bem usual numa igreja pentecostal. Um pastor ora por uma mulher, cercado de pessoas que intercedem por ela e dão glórias a Deus em voz alta. Mas aí começa a parte não usual: a cabeça da senhora parece se abrir e dela aparentemente saem dois pedaços de carne; tumores, segundo o pregador. A congregação fica eufórica. Depois, a ferida na testa da irmã some como por mágica. O episódio, supostamente o registro de um milagre, já causaria polêmica no ambiente evangélico. Só que tudo o que aqui foi descrito está acessível a qualquer pessoa, em qualquer lugar, do Japão à Groenlândia, desde que tenha um computador com acesso à internet e saiba digitar www.youtube.com.

Esse é o endereço do site You Tube, que vem revolucionando a forma de se exibir vídeos na web. Nele, é possível transmitir áudio e vídeo, sejam filmagens caseiras, propagandas, desenhos animados, trailers de filmes ou qualquer outro recurso audiovisual. Foi lá, por exemplo, que cenas tórridas da apresentadora e modelo Daniela Cicarelli, fazendo sexo com o namorado numa praia da Espanha, foram apresentadas para todos os continentes. E, agora, dezenas de vídeos com possíveis milagres também estão sendo exibidos para quem quiser ver.

Para compreender a extensão do fenômeno, nada explica melhor do que os números. Criado em fevereiro de 2005, You Tube é um dos sites que mais cresceram na internet no último ano. Segundo a publicação sobre tecnologia IDG Now, os acessos mensais dispararam de 57 mil para 1,2 milhão num período de cinco meses no Brasil. Nos EUA, o aumento foi de 58 mil para 12,6 milhões em oito meses. Tanto que seus criadores venderam a empresa para o portal Google por 1,65 bilhão de dólares. Repita-se: bilhão. Atualmente, ela tem um acervo de cem milhões de vídeos. A cada 24 horas, são incluídos 65 mil novos arquivos, com duração média de 2 a 5 minutos.

O segredo para fazer acontecer esse fenômeno de popularidade foi permitir que os donos de blogs (diários virtuais na internet) pusessem vídeos do You Tube em seus espaços pessoais. Com isso, o site ganhou distribuição em escala global. Oficialmente, não existe censura no You Tube, mas o usuário recebe um alerta em casos de vídeos com conteúdo violento ou pornográfico.
Se todo o mundo descobriu esse espaço, os evangélicos não ficaram de fora, como aqueles que postaram a cena do suposto milagre, descrita na abertura desta reportagem. Para conferir, basta acessar o link www.youtube.com/watch?v=I2HEFf3ezKs. Mas essa, de longe, não é a única ocorrência.

Absolutamente impressionante é a série de nove clipes chamada ‘’Milagres na Nigéria’’. Num dos vídeos (www.youtube.com/watch?v=m4bTmSpEf1Q), um homem de 27 anos, Folorunsho Ibikunle, é apresentado com um câncer nas nádegas capaz de chocar até os estômagos mais fortes. Deitado num local imundo, com vermes passeando pelo corpo, ele é levado à igreja Church of All Nations [Igreja de Todas as Nações], conhecida como The Synagogue [A Sinagoga], em Lagos, na Nigéria. Depois, é visto numa segunda etapa com a ‘’cratera’’ que havia em seu corpo já cicatrizada. Por fim, aparece dando o testemunho, 100% sarado. Difícil duvidar do milagre, mesmo um não-crente que veja a gravação.

Da mesma série, uma mulher com lepra (ou câncer, não se sabe ao certo) nos lábios aparece antes e depois da cura, junto com o letreiro, em inglês, ‘’a Deus seja a glória, pois por suas feridas somos sarados’’. No mesmo vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=bpx_DUKO1is&mode=related&search=), um homem nu, com o corpo totalmente consumido pela lepra, é mostrado doente e depois sarado. As imagens são tão fortes e as curas tão patentes que é difícil conter as lágrimas. O mesmo clipe ainda mostra mais duas pessoas sendo curadas, uma de mal de Parkinson. Instantaneamente.

Os vídeos foram postados pelo webmaster Junior Reichert, de 39 anos, membro da Assembléia de Deus – Ministério Madureira, com sede em Curitiba (PR). Ele já passou para o You Tube mais de 30 filmagens mostrando possíveis milagres. Para Reichert, o que o levou a tomar essa iniciativa foi ‘’a necessidade de mostrar ao mundo, mas principalmente ao povo que se diz cristão, que o nosso Deus não mudou’’.

E a repercussão tem sido imensa. Reichert assegura que todos os dias recebe e-mails comentando os milagres. ‘’Não só do Brasil, mas de pessoas que estão em outros países, como Alemanha, Argentina, Chile, Japão, Portugal, Suíça, Noruega etc.’’.

O webmaster acredita no poder evangelístico do You Tube. ‘’Sem dúvida é um ponto muito forte para evangelização’’, diz. ‘’Pessoas não-evangélicas estão vendo um pouco do que o Deus vivo pode fazer!’’. Ele conta que ainda não soube de casos de pessoas que tenham se convertido após assistir aos vídeos, mas que conhece muitos que têm sido renovados espiritualmente e voltado aos pés do Senhor.

Outro usuário, identificado como Derli Dias, postou, em www.youtube.com/watch?v=IlOA-T-hPR0&mode=related&search=, o testemunho de mulheres que afirmam ter sido curadas de caroços e tumores nos seios.
CURA DE TUMORES

Apresentar o testemunho de uma cura miraculosa também foi o objetivo de um internauta, identificado pelo apelido ‘’Jesusumsodeus’’, ao disponibilizar o caso de Maria de Fátima Farias. Segundo informação apresentada no site, ela tinha câncer e sangramento vaginal. Os médicos disseram que não tinha cura. Hoje, está curada. O depoimento está em www.youtube.com/watch?v=MDBg4vXJys8&mode=related&search=. Além da história de Maria, o responsável também postou pelo menos outros 15 testemunhos no You Tube.
O vídeo ‘’irmãos cegos são curados’’ mostra algo que, se confirmado, é a concretização de algo que muito se fala mas pouco se vê nas igrejas: um casal de irmãos recebe a oração do apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, em São Paulo, e passa a enxergar. Acessíveis no link ww.youtube.com/watch?v=HxKcp8UlhAE, as imagens foram disponibilizadas pelo próprio Santiago.

Outro suposto milagre que qualquer pessoa pode ver é o link ‘’hérnia sai pelo umbigo’’ (www.youtube.com/watch?v=Dub1GpUDnGo), em que um senhor recebe oração do pastor Makiã Santos. Após cinco minutos de oração, uma bolinha preta aparece no umbigo do irmão. Segundo o pregador, é uma hérnia.

Como se pode ver, exemplos não faltam. E a tendência é haver cada vez mais material do gênero no You Tube. Mas o fato de vídeos tão polêmicos serem expostos a todo o mundo sem uma explicação, uma referência ou uma orientação poderia causar escândalo em vez de disseminar positivamente o poder de Deus? ‘’Escandalizar, não. Mas polemizar, com certeza’’, reconhece Junior Reichert. Para evitar abusos e enganos, ele garante que toma o cuidado de analisar cada vídeo antes de postar.

Isso não impede que haja reações negativas. O internauta Menegon 1986 deixou um comentário no espaço reservado às opiniões de cada usuário. Em uma palavra, resumiu seu sentimento diante dos testemunhos de cura. ‘’Ridículo’’, escreveu.

Apesar das reações negativas, o pastor Marcelo Eliziário Vidal, da Igreja Presbiteriana do Caju, acredita que o You Tube pode se tornar uma ferramenta eficaz de evangelização. Usuário da Internet e do site, pastor Marcelo assistiu aos vídeos descritos nesta reportagem e ficou impressionado. ‘’Acredito que a pessoa não-cristã que tenha a chance de ver essas imagens pode até enfrentar uma confusão momentânea, mas depois terá sua curiosidade aguçada e vai procurar se informar sobre aquilo. É possível até que daí venham conversões’’.

ORIENTAÇÃO NÃO GERA CONFUSÃO

Ele concorda que o ideal seria postar cada clipe junto com informações bíblicas ou orientações teológicas, para facilitar o entendimento do internauta. Mas pastor Marcelo não vê impedimento algum em usar sites como o You Tube para levar para fora das paredes das igrejas imagens a que até agora o grande público não tinha acesso. ‘’O grande problema é quem usa e como usa. O You Tube pode ser uma arma maléfica ou benéfica. Para mostrar milagres, o crescimento de igrejas e outras coisas que glorifiquem o nome de Jesus são extremamente benéficos’’.

O pastor Marcos José Filho, vice-presidente da Assembléia de Deus na Ilha do Governador (Adig), no Rio de Janeiro, compartilha dessa opinião. Ele se baseia em 1 Co 9.22, que diz: ‘’Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns’’. ‘’Todos são todos. Todos os meios são válidos para alcançar vidas. Nesse sentido, o You Tube é muito importante, porque cada vez mais as pessoas se isolam em casa e a internet é um canal fundamental para chegar até elas’’, explica.

Marcos Filho é antenado com a tecnologia. Acessa regularmente a internet, tem comunidade no Orkut e já entrou muitas vezes no You Tube. Além disso, sua igreja transmite os principais cultos, ao vivo e sem cortes, pela web (www.adig.com.br). Ele acredita que o ideal seria que cada vídeo viesse acompanhado de uma orientação, para não confundir o internauta. ‘’Se um clipe é solto no ar sem um fechamento, sem amarrar a questão, a essência do que é mostrado pode se perder. Mas, mesmo sem nenhuma orientação, as imagens em si já são muito importantes, pois muita gente sabe reconhecer aquilo’’.

Diretor do Instituto Bíblico da Adig (Ibadig), Marcos Filho também ressalta que, além do enfoque evangelístico, os vídeos de milagres têm peso para a edificação espiritual. ‘’Nunca presenciei milagres tão impressionantes como os da Nigéria, a que assisti no You Tube. Ver aquilo nos leva a pensar por que esses fenômenos acontecem daquela forma naquele lugar e não na nossa igreja. Isso nos incentiva a buscar cada vez mais a Deus’’, conclui.
*Maurício Zagari - (Revista Enfoque Gospel).

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A submissão da mulher

Como, por que e para quê ler Efésios 5.22-24, que diz: “Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos”? Penso que precisamos levar em conta alguns pressupostos, uns gerais e outros específicos.

PRESSUPOSTOS GERAIS

1. A Bíblia ainda é o livro que rege as nossas vidas. Ela nos fala de princípios, que são imutáveis, porque inspirados por Deus, que conhece o tempo e não muda com ele. Nosso pensamento deve estar em conformidade com a Bíblia; não com a nossa interpretação, mas com o texto. Precisamos nos expor a ele para que nos exponha o conselho de Deus.

2. Mesmo que o contexto histórico em que surgiu o conselho de Deus seja outro, este conselho continua sendo de Deus.O contexto, no entanto, é fundamental para entendermos o sentido do texto e para o aplicarmos ao nosso contexto.

3. Precisamos saber que os padrões bíblicos se inscrevem numa ordem espiritual, não numa ordem natural; para ficarmos com os padrões naturais, não precisaríamos da Palavra de Deus. É a realidade que deve se conformar à Palavra de Deus, e não o contrário.

PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS

1. O ensino paulino sobre a mulher está adiante do seu tempo.

Na sociedade romana, o casamento nada tinha a ver com amor. Era arranjado pelas famílias. Quando casada, uma mulher romana estava sob a jurisdição do seu marido ou do pai dela, dependendo do tipo de contrato celebrado. O propósito do casamento era garantir a sucessão familiar, para que os espíritos dos mortos fossem honrados.

A razão para o casamento não era o amor, mas a procriação. Por esta razão, o divórcio era natural quando a mulher não pudesse cumprir esta sua função. O homem geralmente era promíscuo. Algumas esposas também o eram, mas discretamente, porque seu gesto poderia ser considerado infidelidade. O do homem, não.

Um homem geralmente se casava aos 30 anos, e uma mulher aos 18, ou antes. Cabia ao homem ensinar essa adolescente a viver na nova casa, uma casa onde havia escravos e era semipública. A expectativa média de vida da mulher na Roma antiga era, no máximo, de 30 anos. Eis o epitáfio de uma destas mulheres (Vetúria): casada aos 11, mãe de seis filhos e falecida aos 27.

As mães precisavam ter muitos filhos, porque não sabiam quantos sobreviveriam. Os maridos da aristocracia esperavam que suas esposas estivessem permanentemente grávidas. Os pobres, não, por falta de recursos para sustentar os filhos. As mulheres não podiam escolher ter ou não ter filhos. Além da maternidade, as mães podiam participar da educação dos filhos.

As mulheres não tinham qualquer possibilidade de escolha pessoal. Elas estavam sempre sob a supervisão dos seus pais, parentes masculinos e maridos, que geralmente as beijavam na boca... para sentir se tinham bebido vinho, algo proibido para mulheres, por estimular ao adultério.O mundo romano antigo era a cultura patriarcal, com os homens controlando todas as posições de poder. Mulheres e crianças não tinham qualquer poder. Uma mulher raramente acompanhava seu marido e filhos às refeições. E só podia comer quando acabasse a conversa à mesa, onde não podia se assentar, mas num banco ao fundo. Na família romana, portanto, a idéia de igualdade no lar simplesmente não existia.

2. Embora venhamos a ter algumas dúvidas sobre como entender a recomendação paulina acerca da submissão da mulher, podemos ter certeza do que o texto não diz:

• Paulo não diz que a mulher não pode ocupar funções de liderança, inclusive de ser pastora. Quem lê o livro de Atos dos Apóstolos e as cartas paulinas nota, com abundância, a consideração que tinha para com elas em seu ministério.

• Paulo não aplica a submissão da esposa a todas as áreas da experiência humana. A instrução é específica ao contexto da vida de uma família cristã e não se aplica à política, aos negócios e nem mesmo à igreja.

• Paulo não recomenda que a esposa deve obedecer ao seu marido como se não tivesse gosto ou vontade próprios. Filhos e servos devem obedecer. Esposas devem se submeter. Portanto, quando fala dos deveres dos filhos e dos servos, Paulo pede que obedeçam a seus pais e a seus senhores (hupakouete). Quando orienta as esposas, ele pede que se submetam (andrasin). Esta diferença não pode ser ignorada se quisermos entender o sentido da instrução paulina. A diferença não pode ser desconsiderada. A mulher não deve se esconder atrás desta submissão para se livrar de suas responsabilidades, como Eva tentou fazer. Safira foi tão culpada quanto Ananias, e morreu junto com o marido porque também pecou. A mulher tem o direito e o dever de discordar do seu marido, se for o caso.

• Paulo não autoriza o marido a tratar sua esposa como pessoa inferior, como se fosse ele um déspota que reinasse sobre sua mulher. Paulo não autoriza o marido a tratar sua esposa como uma criança a ser cuidada, porque incapaz. Paulo não admite que o marido possa desrespeitar sua esposa, humilhando-a (porque ela não trabalha fora, por exemplo), vigiando-a (por causa do ciúme doentio), proibindo-a disto ou daquilo (estudar, trabalhar fora, participar de uma igreja), tratando-a como empregada ou prostituta particular, sufocando-a em suas necessidades. Paulo não sinaliza que o marido pode cometer violência, física ou psicológica, contra sua esposa, porque Deus não é cúmplice da covardia.

A SUBMISSÃO DA MULHER AO MARIDO SEGUNDO A BÍBLIA

1. Marido e mulher são seres diferentes.A submissão feminina é o reconhecimento das diferenças de gênero. Homem e mulher são diferentes, logo têm papéis diferentes, que devem ser valorizados. Ambos podem se destacar no mundo dos negócios, da política, da educação e da ciência, mas há papéis, biologicamente ou culturalmente dados, que cabem a cada um. No desenvolvimento destes papéis, homem e mulher, marido e esposa, são complementares.
Tornou-se politicamente correto afirmar a igualdade absoluta entre masculino e feminino, mas esta assertiva é equivocada se não incluir a dimensão da diferença, sem superioridade, sem inferioridade.

2. A submissão feminina é a afirmação que o relacionamento entre marido e mulher deve ser exclusivo, no sentido de ser um para o outro. O amor e o cuidado devem ser mútuos, com um servindo ao outro. Nem homem nem mulher é mais importante do que o outro aos olhos de Deus (Gálatas 3.28), pois Deus os criou à sua imagem (Gênesis 1.27) e os tornou co-herdeiros do dom da graça da vida manifestado em Cristo Jesus (1Pedro 3.7).

3. A submissão feminina quer dizer que uma família precisa de uma liderança. Nenhum organismo social vive sem uma liderança.

Marido e mulher podem inclusive se especializar na liderança.O casal pode combinar, por exemplo, que a gestão financeira poderá ficar sob a responsabilidade daquele que for mais capaz de gastar menos...Uma eventual especialização não altera o papel do homem na vida familiar. Muito do que há de pior nas famílias advém da omissão masculina. Portanto, numa situação ideal, em que o casal busca a plenitude do Espírito Santo, a liderança é masculina. No entanto, vivemos num mundo decaído, onde presenciamos o abandono, a infidelidade, a insanidade, a violência doméstica e a dependência química.

Uma esposa abandonada não pode esperar que o marido ausente lidere a família; esta tarefa tem que ser assumida por ela, se não quiser que a fome campeie e a desagregação se estabeleça de modo definitivo. Uma esposa sabidamente traída precisa assumir sua dignidade, não esperando que um marido adúltero diga a ela e a seus filhos como devem agir. Um marido infiel está moralmente incapacitado para liderar a família.Uma esposa física ou emocionalmente agredida por seu marido está desobrigada em aceitar a violência como decorrência da liderança masculina.

A violência de um homem contra sua esposa é uma demonstração de insanidade, que o desqualifica como líder. A mulher tem o dever de preservar sua saúde física e emocional, buscando uma delegacia, se for o caso, para denunciar seu cônjuge.

Uma família em que o marido/pai ficou enfermo mentalmente não deve esperar que ele assuma seu papel de líder enquanto precisa de recuperação. Ele deve ser respeitado, amado, querido, mas não pode ter sobre si mais este peso, que o debilite ainda mais. A esposa precisa assumir a liderança da casa e até do tratamento do esposo.

Uma família em que o marido/pai se tornou dependente de drogas, seja o álcool ou os tóxicos, não pode permitir que este homem lidere a casa, sob pena de sofrer um naufrágio coletivo, uma vez que a dependência devasta a saúde física, emocional e financeira de uma família. A esposa deve assumir a liderança e investir na recuperação do esposo.

Numa família que procura viver sob o Espírito de Deus, o marido assume o seu papel, amando a sua esposa, amando os seus filhos, sem se impor com frases do tipo “aqui quem manda sou eu”, próprias dos fracos.Submissão é uma atitude do coração, não um ato. Um casamento triunfará se for entre iguais.

Um casamento entre iguais vai além de papéis e fórmulas. Só o casamento entre iguais permite a verdadeira intimidade. O casamento é o espaço da comunhão entre iguais.Se for baseado na autoridade, o casamento fracassará, mesmo que os dois continuem coabitando. O relacionamento no casamento não é de hierarquia, com o marido no trono e a mulher no chão, mas de parceria.

*Israel Belo de Azevedo