domingo, 1 de março de 2009

Tome sua cruz

A conhecida frase “Tome sua cruz” faz parte de um conjunto de normas que Jesus ensinou aos seus seguidores. Lucas relata que Jesus dizia a todos: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (9.23, NVI).

Para ser um amigo, seguidor de Jesus, há pelo menos quatro exigências. Primeira, querer acompanhá-lo. Deus não nos força a andar nos passos do seu Filho. Basta desejar ser um amigo chegado de Jesus. Segundo, negar a si mesmo. O “eu” que se entronizou no centro de comando da minha vida, desde que tomei consciência de que sou uma pessoa distinta das outras, tem de ser decisivamente destituído desse domínio. Devo negar o “eu” por meio de uma decisão definida e radical. Paulo podia dizer aos Gálatas, após essa negação definitiva de si mesmo: “Não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim”. Não declara a impecabilidade do apóstolo, mas a entrega do comando sobre sua vida ao Senhor Jesus.

O terceiro passo requer a tomada diária da minha cruz. Incluem aqui aceitar de boa vontade todas as aflições e responsabilidades que em minha carne repudiaria. A cruz refere-se ao conjunto de circunstâncias que fazem parte da minha vida. Em si, não me agradam nem as escolheria, mas Deus soberanamente as impôs sobre mim. Posso aceitar esse peso ou procurar escapar dele.

E.B. Pusey escreveu muitas décadas atrás: “Falamos das cruzes da vida diária e esquecemos que nossa linguagem testemunha contra nós. É preciso muita mansidão. Devemos suportá-las nos passos abençoados do nosso santo Senhor, e não devemos apenas nos sujeitar em cada cruz e inquietação, mas pegá-las com alegria – não apenas com alegria, mas com júbilo, sim, se elas até merecem o nome de tribulação; alegre-se em tribulação também, pois vemos nelas as mãos de nosso Pai, a cruz de nosso Salvador” (Refrigério para a Alma, Shedd Publicações, 2005, p. 218).

Somos o aroma de Cristo que se espalha por toda a parte, segundo Paulo, uma vez que somos conduzidos nEle em triunfo sempre (2 Co 2.14). Essa fragrância somente pode ser o cheiro do sacrifício de Cristo que emanou da sua cruz. Cristo se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus (Ef 5.2). Quem vive muito próximo dEle também ganha o cheiro daquEle que se entregou voluntariamente por nós à vergonha e à agonia da cruz do Calvário.

A quarta exigência é seguir a Jesus, andar nos seus passos. Uma vez que a cruz, firme e constantemente, se torna parte de minha pessoa (Paulo declarou sua crucificação com Cristo no tempo perfeito, corretamente traduzida – “estou crucificado com Cristo”), não vivo mais eu, mas Cristo vive em mim. O “estilo” de Jesus torna-se parte integral da pessoa do seu seguidor, Paulo. Este, por sua parte, não achou demais convidar seu filho na fé a imitá-lo, como ele imitava a Cristo.

Parece-me que a maioria das conversões dos nossos dias é do tipo light! Omitem os passos que Jesus colocou em sua lista. Em vez de negarem-se a si mesmos, hoje é mais comum afirmarem-se a si mesmos. Em lugar de tomarem a cruz, freqüentemente encontramos “crentes” que se afastam da cruz e tentam escapar das responsabilidades desagradáveis. Em vez de pisarem firmemente nos passos de Jesus, tomam um caminho tortuoso. Desviam-se do santo caminho que o Senhor trilhou.

O jugo de Jesus tem pouco peso para os que querem abandonar o esforço da vontade humana para ser uma “encarnação” de Cristo. Para os cansados e sobrecarregados que desejam seguir ao Mestre com paixão, que em definitivo se negam a si mesmos, tomando suas cruzes diariamente com gratidão e alegria, descobrirão que esse fardo é realmente leve. Suas almas descansam na comunhão com seu Senhor. Suas vidas refletem a luz celestial dos que vivem mais próximos do seu Senhor, como Moisés na presença de Deus no cume do Monte Sinai. O bom perfume de Cristo os acompanha aonde quer que andem.

*Russel Shedd / é um conceituado teólogo evangélico e missionário da Missão Batista Conservadora no Sul do Brasil. Shedd é Presidente Emeríto da Vida Nova e consultor da Shedd Publicações e viaja pelo Brasil e exterior ministrando em conferências, igrejas, seminários e faculdades de Teologia.