segunda-feira, 28 de abril de 2008

"Procurando o Deus desconhecido"


Nietzsche foi o mais inteligente e contudente dos ateus, sendo considerado o mais herético dos intelectuais.

Sobre os alicerces do seu ateísmo, Nietzsche indaga com contundência: "Como? O homem é só um equívoco de Deus? Ou Deus é apenas um equívoco do homem?" (Nietzsche, 1888.)


Se esse arguto filósofo tivesse estudado os segredos fascinantes da oração do Pai-Nosso, entenderia que Deus e o ser humano são cúmplices um do outro, frutos do mais excelente equívoco, o equívoco do amor. Um amor nascido nas tramas sublimes da solidão.

Nietzsche era de fato um ateu? Queria destruir a idéia de Cristo do seu imaginário? Achava uma estupidez psicológica o ser humano procurar por Deus nessa curtíssima trajetória existencial? Considerava um desperdício ocupar a mente com as idéias sobre Deus? Não!

Nietzsche procurava preparar os solos da sua psique para conhecer os mistérios que cercam a vida. Era alguém inconformado com o superficialismo. Nele havia um desespero intelectual em busca do Autor da existência.

Sua anciosa procura foi um dos exemplos mais espetaculares da inquietação de um ser humano imerso nos pântanos da solidão. Para discutir esse assunto, quero transcrever e depois comentar uma "oração filosófica" feita pelo próprio Nietzsche, e que é muito pouco conhecida. Esta oração foi traduzida pelo ilustre Leonardo Boff diretamente do alemão (Boff,2000):

Oração ao Deus desconhecido

Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para frente, uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.

A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar.

Sobre esses altares estão gravadas estas palavras:

"Ao Deus desconhecido."

Teu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.

Teu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.

Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servir-Te.

Eu quero Te conhecer, desconhecido.

Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.

Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer, quero servir só a Ti.

(Friedrich Nietzsche)

Nessa oração, os pensamentos de Nietzsche fluem como um rio que jorra do manacial das suas dúvidas. Esse rio flui não apenas na direção do Deus que está além dos limites do tempo e do espaço, mas do Deus que ele procura nos recônditos do próprio ser.

Nietzsche se debate tentando fugir de Deus para seguir sua história e traçar seus próprios caminhos. Mas não consegue fugir de si mesmo. Os caminhos se cruzam. Só, num mergulho introspectivo e solidário, o filósofo se aproxima do Autor da existência.

Como terra árida que clama por chuva, qual sedento que sonha em refrigerar sua alma, ele tem a ousadia de dizer que ergue altares festivos para Ele. Na esperança de ouvir o inaudível, de perscrutar a Sua voz.

Nesses altares estão escritas em fogo as palavras dirigidas ao mais comentado dos seres e menos conhecido da história: o Deus desconhecido. Aquele que pertubou a mente de intelectuais e deixou em suspense a inteligência dos filósofos. Aquele que é especialista em se esconder, mas inscreve sutilmente sua assinatura através das gotas de orvalho, do sorriso de uma criança, da brisa que toca o rosto.

Nietzsche não sabe como defini-Lo, mas sabe que não pode deixar de pensar Nele. Embora tenha criticado a religiosidade com virulência ímpar e fosse contra a submissão cega, para nosso espanto declara "Teu, sou eu", apesar de que até aquele momento ter criticado as idéias ligadas a Deus. Quem pode explorar as vielas da mente desse filósofo?

Quando todos pensavam que Nietzsche fosse o mais radical dos ateus, na realidade era um filósofo desesperado em busca de uma experiência radical com um Deus vivo, e não com o deus construído pelos seres humanos.

Nietzsche era um anti-religioso que, com uma coragem única, anunciou a morte de Deus. Mas não é a morte do Deus do Pai-Nosso, mas do deus criado pelo ser humano, o deus construído à imagem e semelhança do seu individualismo, arrogância e autoritarismo. O deus que é um joguete nas mãos humanas, que faz guerras, que subjuga e exclui.

Em sua oração, o filósofo tenta separar o deus humano que o decepcionou, do Deus concreto que alicerça a existência. Tentou fugir de ambos, mas agora se sente compelido a procurar o Deus real. Não vê sentido se não encontrá-Lo. Inquieto com suas próprias conclusões, Nietzsche se lança como um raio em direção a explicações mais profundas.

Com uma humildade raramente vista entre os mais célebres pensadores, ele reconhece sua pequenez e clama em alta voz e sem medo: "Eu quero Te conhecer, desconhecido!"

Ele clama de forma imperativa, como se tivesse em sintonia com o tempo verbal usado na oração do Pai-Nosso.Ele não está no alto da montanha, mas no cume dos questionamentos. Nesse cume, deixa-se refrescar pela brisa da serenidade. Não perdeu sua capacidade de aprender.

Para mim, é como se Nietzsche estivesse recitando a oração do Pai-Nosso à sua maneira. Como se dissesse: "Deus desconhecido que estás nos céus, quero elogiar Teu nome, mas não sei quem Tu és. Sai do Teu reino e penetra no meu ser. Ansiosamente espero ouvir a Tua voz. Deixa-me conhecer Teu projeto e saber onde eu me insiro nele. Sulca os solos da minha alma. Não me deixes sucumbir nos áridos vales das dúvidas. A Ti pertenço. Teu sou, embora, até o presente, eu tenha Te negado. Dá-me o pão diário que nutre a inteligência. Eu quero Te conhecer, desconhecido."

Ateus e não-ateus, independentemente de uma religião, sempre tiveram Deus como um tema central em suas inteligências. Disseram palavras que, embora nunca pronunciadas, expressaram estas idéias:"Deus quem és Tu? E quem sou eu? Penetra o meu pensamento. Invade meu orgulho, irriga meu radicalismo com o orvalho da humildade antes que se dissipe meu tempo e eu me torne uma terra seca e estéril. Ensina-me a ouvir no silêncio e a enxergar na ausência da luz. Eu quero Te conhecer."

Há uma busca insaciável em todo ser humano. Parafraseando Jesus, o Mestre dos Mestres: "Bem-aventurados os que se esvaziam em seu espírito e se tornam garimpeiros em busca de suas origens, porque, ainda que se percam num mar de dúvidas, deles é o reino da sabedoria."

Afinal, a grande conclusão do texto mais recitado e menos compreendido da história é:

Deus e o ser humano são dois seres solitários que vivem no teatro da existência procurando anciosamente um ao outro no pequeno parêntese do tempo...

*Augusto Cury em "Os segredos do Pai-Nosso"- Rio de Janeiro:Sexante,2006.

domingo, 27 de abril de 2008

Meditação

"Quer saber o resultado final de uma sociedade que é educada a desprezar a Bíblia e cultuar a teoria da evolução, destronando Deus e seus valores e entronizando Karl Marx, Hitler, Darwin ou outros homens e seus valores?
Olhe para o que aconteceu com a Alemanha nazista e a extinta União Soviética: quando os seres humanos param de respeitar a Deus e passam a crer que vieram do macaco, eles se tornam piores do que os animais selvagens."

Júlio Severo

sexta-feira, 18 de abril de 2008